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Saúde

Um ano depois, África quer evitar a todo custo tornar-se no “continente da covid-19”

Mais de um ano depois do primeiro caso de covid-19, a pandemia está mais mortal em África e o ritmo da chegada das vacinas faz aumentar receios de que o vírus se torne endémico no continente.

: Minasse Wondimu Hailu/Anadolu Agency via Getty Images
Minasse Wondimu Hailu/Anadolu Agency via Getty Images  

O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egipto, a 14 de Fevereiro de 2020, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsaariana a registar casos de infecção, a 28 de Fevereiro.

Um ano depois, as mortes associadas à covid-19 em África aumentaram 40 por cento entre Janeiro e Fevereiro e ultrapassaram as 100 mil, numa altura em que o continente se debate com novas estirpes, mais contagiosas, e está numa corrida para conseguir vacinar população suficiente que evite que o vírus se possa tornar endémico da região.

A taxa de letalidade do vírus continua a aumentar no continente - durante a segunda vaga atingiu os 2,6 por cento acima da média global de 2,2 por cento - apesar da tendência decrescente de novos casos desde o início de Janeiro.

Trinta e dois países comunicaram um aumento das mortes entre Janeiro e Fevereiro e a taxa de mortalidade por covid-19 em África, durante este período, subiu para 3,7 por cento em comparação com os 2,4 por cento no período anterior.

Em Fevereiro, globalmente, registou-se uma quebra de 15 por cento dos novos casos, segundo dados do Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças da União Africana (África CDC), uma tendência que muda nas regiões da África Central, com um aumento de 14 por cento dos novos casos, e a África Oriental, onda as novas infecções cresceram 7 por cento.

"Estes dados podem indicar o início de uma terceira vaga", alerta o director do África CDC, John Nkengasong.

Os países africanos somam quase 4 milhões de casos de covid-19, ou seja, 3,4 por cento do total mundial de casos, e mais de 100 mil mortes, que representam 4 por cento dos óbitos provocados pela doença a nível mundial.

África surge, no entanto, como o segundo continente menos afectado pela pandemia, a seguir à Oceânia, com 264,1 casos por 100 mil habitantes e 67,1 mortes por milhão de habitantes, muito abaixo da média mundial de 1309,5 casos/100 mil habitantes e 283,1 mortes/1 milhão de habitantes, segundo dados da Fundação Robert Schuman.

A América do Norte é a região mais afectada (5058,3 casos/100 mil habitantes e 1082,5 mortes/1 milhão de habitantes) seguida da Europa (4021,7 casos/100 mil habitantes e 931,2 mortes/ 1 milhão de habitantes).

Números que não descansam John Nkengasong, que insiste na necessidade de evitar a todo o custo que África se torne numa zona de covid-19 endémica.

O virologista dos Camarões, que se tornou a cara da luta contra a pandemia de covid-19 em África, não esconde a frustração com os "discursos politicamente correctos" sobre solidariedade e acesso equitativo às vacinas e a incapacidade de os traduzir em acção.

Com meses de atraso relativamente à Europa e aos Estados Unidos, esta semana, vários países africanos começaram a receber as primeiras vacinas ao abrigo do Covax, mecanismo impulsionado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Aliança de Vacinas (GAVI).

Gana, Costa do Marfim, Quénia, Angola, Gâmbia, Ruanda, República Democrática do Congo (RDCongo), Senegal, Nigéria, Lesoto e Sudão receberam as primeiras doses nos últimos dias.

Nkengasong reconhece o "simbolismo" da cooperação e solidariedade global do mecanismo Covax, mas sublinha que "sempre foi muito claro" que este mecanismo só daria a África 20 por cento das vacinas necessárias.

"E não há maneira de nos livrarmos da covid-19 com 20 por cento de vacinação, precisamos de pelo menos 60 por cento. A Europa está a tentar vacinar 80 por cento. Os Estados Unidos estão a tentar vacinar toda a gente. Acabarão de vacinar, imporão restrições de viagem e depois a África tornar-se-á 'o continente da covid'", disse.

Por isso, vários países africanos estão a procurar vacinas através de acordos bilaterais com empresas ou de doações, na maioria dos casos com a empresa farmacêutica estatal chinesa Sinopharm.

O Ruanda, que recebeu dois lotes através do programa da OMS e do Gavi (240.000 doses da AstraZeneca e 102.960 da Pfizer), tinha iniciado já em meados de Fevereiro a sua campanha de vacinação após ter adquirido por conta própria cerca de mil doses de vacinas da Moderna e Pfizer.

Na mesma linha, o Senegal recebeu 324.000 doses da AstraZeneca através da Covax, além das 200.000 doses da Sinopharm que permitiram lançar a campanha de imunização a 23 de Fevereiro.

Angola tornou-se o primeiro país lusófono a receber vacinas através da Covax, com uma primeira entrega de 624.000 doses, que fazem parte do total de 12,8 milhões previstas.

Além destas, o país iniciou o processo de aquisição de 12 milhões de doses da vacina russa Sputnik V.

A União Africana (UA), por seu lado, assegurou 670 milhões de doses de vacinas a serem distribuídas em 2021 e 2022, e tem também uma oferta da Rússia de 300 milhões de doses da Sputnik V, que estarão disponíveis a partir de Maio.

Embora a chegada das vacinas permita acelerar a imunização covid-19 em África, até agora apenas 11 dos 55 Estados-membros da União Africana iniciaram campanhas nacionais de vacinação: Marrocos, Egipto, Maurícias, Argélia, Seicheles, Guiné Equatorial, Zimbabué, África do Sul, Senegal, Costa do Marfim e Gana.

A directora regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, estima, ainda assim, que "a maioria dos países africanos tenha os seus programas de vacinação implementados até ao final de Março".

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