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Economia

Rui Tati: “Gostaria de ver o mercado angolano a tornar-se mais justo”

Foi piloto sem nunca o ser, já que a vida se encarregou de o colocar no comando de outros destinos. Considera-se um “desenvolvedor de projectos” e descarta modestamente o facto de ser um dos empresários mais respeitados do país. Conta países, empresas e profissões… O itinerário mais recente colocou-o no comando da portuguesa Pelcor. Sem surpresas, diz-se pronto para o desafio.

Tiago Caramujo:

Por entre planos, projectos, investimentos e empresas, há algo que nunca esquece… a Angola que o viu nascer. Antevê um “futuro promissor” para o país, alicerçado por uma vontade conjunta de crescimento e oportunidades para empresas nacionais com provas dadas. Mas deixa um alerta: o maior investimento de todos pode e deve ser feito na educação do angolano.

Quem é o Rui Tati?

Eu sou um desenvolvedor de projectos. Desenvolver e implementar projectos é das coisas que mais gosto de fazer em termos profissionais.

É piloto de profissão. Como é começou a descobrir o mundo pelo ar?

O sonho de grande parte das crianças do meu tempo foi o de poder voar. Então, na altura em que tive que decidir o que iria fazer profissionalmente, a resposta que dei aos meus pais foi a de que seria piloto, e tive o privilégio de poder concretizar parte deste sonho, sou piloto de formação mas nunca o cheguei ser de profissão.

E como é que um piloto se torna num dos empresários mais respeitados do país?

Esta afirmação ostenta um elevado nível de inverdade. No entanto devo dizer que a diversificação fez naturalmente parte do meu percurso profissional. Eu trabalhei em empresas e com marcas como a Secil Marítima, Grupo Zuid Casa Holandesa, Heineken-Amstel, Grupo Valentim Amões, Ulisses-Yamaha, Revista Talentos, The Coca-Cola Company, Enad, Escom, Da Obras Publicas Lda, B'weza, UX.

Toda a experiência que fui acumulando ao longo dos anos foi-me dando alguma maturidade para realizar alguns bons projectos. Um dos que vejo como sendo de maior relevância é sem dúvida o da GE-GLS Oil & Gas Angola.

Angola, África do Sul, Portugal, Alemanha, Espanha ou EUA. Contamos países, empresas e profissões. Mas, afinal, qual é a sua paixão?

Desenvolver projectos e fazer com que estes sejam implementados de forma a alcançar um bem comum. A responsabilidade social para além da sustentabilidade dos mesmos passou a jogar um papel muito importante na implementação dos projectos que desenvolvo.

Tem um curriculum invejável. Está ou esteve envolvido em inúmeros projectos de referência a nível nacional e internacional. O empreendedorismo está-lhe no sangue?

A minha mãe mesmo com cinco filhos trabalhou e marcou como referência o seu percurso numa das maiores empresas do sector petrolífero internacional, e fazia muito mais em casa como mãe e esposa. O meu pai é outro exemplo de que não temos de fazer uma única coisa. Os meus irmãos são referências internacionais a nível do empreendedorismo. A educação e a cultura do trabalho acabam por ser cruciais no meio de todo este percurso.

A vida encarregou-se de colocar a Pelcor no seu caminho?

Tive a sorte de saber sobre a potencial oportunidade para investimento na Pelcor por intermédio de uma amiga. E na verdade desconhecia na altura a dimensão da cortiça como matéria-prima sustentável, e quando tive toda informação sobre o real valor desta, não tive dúvidas que seria uma aposta com boas perspectivas para o futuro, tomando em consideração o facto de se tratar de um recurso natural renovável. 

Era este o novo desafio de que estava à procura – internacionalizar uma marca portuguesa de acessórios em cortiça?

Não, não procurei por isso, digamos que este desafio veio ter comigo e eu aceitei-o com o intuito de participar na promoção de uma consciência mais amiga do ambiente.

O facto de me sentir um cidadão do mundo sempre me permitiu participar directa ou indirectamente em projectos fora de Angola, e a Pelcor é uma das marcas da empresa que detenho em Portugal com o nome Mol - My Own Label Lda. No princípio, entrei apenas como investidor desta entidade, mas a realidade à volta deste potencial investimento revelou-se muito abaixo daquilo que eram as minhas expectativas, colocando em risco o meu investimento num curto espaço de tempo, forçando-me assim a adquirir a participação da minha sócia da altura e passar por uma restruturação da estratégia da empresa.

Acredito na cortiça enquanto matéria-prima e acredito que o processo de educação sobre as matérias-primas renováveis é cada dia que passa, mais presente na vida das sociedades e por isso, temos estado a crescer e a criar parcerias para a divulgação das mais-valias deste recurso natural.

O que é que mudou desde finais de Outubro, quando assumiu a liderança?

A mudança de estratégia mudou de forma a tornar a empresa rentável, esta tem sido a prioridade número um. Temos estado a rever também as competências dos Recursos Humanos, aumentar a linha de produtos, investir mais no e-commerce e apostar em parceiros que nos possam garantir a distribuição internacional.

Até onde é que quer levar a Pelcor? África é uma hipótese?

Pelas plataformas online (e-commerce - comercio electrónico), nós estamos em todo o mundo. Mas temos distribuidores físicos dos nossos produtos em Angola e na África do Sul em particular.

Por razões óbvias, gostaria sim que tivéssemos um espaço em Angola, e quero acreditar que num futuro muito breve todas as condições estarão reunidas para que a nossa presença física seja uma realidade. Angola já é um dos principais consumidores da marca Pelcor.

Investir em Angola nos dias que correm. Sim ou não?

Sim, continuamos a ter um país muito virgem e com um futuro promissor se todos nós quisermos.

Em que sectores é que lhe parece que seria uma aposta acertada?

Nos sectores que nos oferecem garantidamente auto-sustentabilidade: saúde, educação, agricultura, indústria transformadora e redes de distribuição.

Onde é que falta investimento?

Na educação do angolano.

Destaca algum projecto que lhe pareça estruturante para a tão falada diversificação económica?

O básico de infra-estruturas. Ainda andamos a lutar com a falta de energia eléctrica e de água, estradas sem manutenção e telecomunicação de custo muito elevado.

Tem algum concelho para quem está a começar?

Sim, é muito importante ter persistência e investir na auto-formação.

E o Rui Tati? Vê-se a investir em novos projectos a curto prazo? Quais são os seus planos?

Sim, mas gostaria de ver o mercado angolano a tornar-se mais justo. E com isto permitir a actuação de nacionais com provas dadas em projectos de todas as dimensões, que a economia bem precisa, com o nível de risco e desconfiança muito mais mitigado.

Tenho planos de continuar a trabalhar nos projectos em que estou envolvido em África, Europa e EUA e recuperar as dívidas de maus pagadores para continuar a investir e desta forma gerar emprego.

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