Com bidões de cinco a vinte litros, a população de Luanda concorre em pé de igualdade com as viaturas nas bombas de combustíveis, suportando filas de até quase uma hora para conseguirem gasóleo e gasolina para abastecer geradores, conforme a Lusa constatou na capital nos últimos dias.
"No meu caso compro apenas cinco litros, embora não chega para abastecer por completo o gerador. Diariamente estou a gastar 1000 kwanzas. São cortes diários, ontem não tivemos sequer energia. Agora é assim todos os dias, daí que espere estas horas nas bombas, para suportar esta enchente", desabafou à Lusa João André, ao fim de vários minutos na fila para comprar gasolina.
As autoridades justificam os constantes cortes de energia em Luanda pela retenção de água para o enchimento da albufeira da barragem de Laúca, na província de Malanje, processo que arrancou este Sábado na presença do presidente José Eduardo dos Santos, prolongando-se por três meses.
"Gasto 6.000 kwanzas para comprar 47 litros de gasolina só para abastecer e manter em funcionamento o gerador", explica Bernardo José, fazendo contas aos últimos dias.
Só para conservar os frescos no frigorífico, Ricardo Jorge, outro morador em Luanda, está a gastar diariamente 2400 kwanzas na compra de 15 litros de gasóleo para o gerador. "A energia está mal, às vezes vem por volta das 16h00 e às 18h00 vai. Com os frescos na arca que temos de conservar, estou praticamente aqui nas bombas todos os dias", desabafou.
A par de combustível, os cidadãos em Luanda estão igualmente a procurar peças novas para voltarem a por a funcionar os geradores, cenário visível nos mercados informais do município do Cazenga, um dos maiores de Luanda.
Isso mesmo também contou à Lusa Daniel Kuzola, que teve de recorrer ao gerador que "há meses" não utilizava. "Estive descansado que o meu gerador ainda funcionava, mas quando procurei ligar dei conta que o motor de arranque estava com problemas de bombear o combustível. Daí que vim cá nos armazéns à procura de um novo motor", explicou.
Uma procura que também se regista nalgumas lojas de geradores do centro da cidade, segundo relatou um dos gerentes. "A procura aqui é mais de peças de geradores e não de novos geradores, são pessoas que já têm geradores em casa, muitos dos quais avariados e devido a falha de energia, então recorrem aqui na busca desta ou daquela peça para substituírem as antigas", admitiu António Martins.