Numa análise sobre a economia angolana a que a Lusa teve acesso, investigadores do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Económico e Social de África (CEDESA) criticam os modelos de actuação do Fundo Monetário Internacional em África, destacando que nenhuma das intervenções desta instituição em Angola "teve sucesso em alterar a estrutura económica do país e ajudar a lançá-lo numa senda de desenvolvimento".
Consideram ainda o mais recente comunicado do FMI, que realça a necessidade de aceleração efectiva e real da reforma económica, "um exercício de ambivalência" devido às contradições.
No comunicado, o FMI aponta aspectos positivos como a recuperação da economia angolana, estimado um crescimento de 3,8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), acima das projecções anteriores, mas mostra-se "assustado" com a derrapagem das contas públicas e o atraso na remoção do subsídio aos combustíveis, inflação elevada e o peso da dívida.
Para o CEDESA, o FMI tem dificuldades em obter "uma visão realista da economia angolana", questionando nomeadamente a "obsessão" com o subsídio aos combustíveis, cuja retirada gerará "ainda mais fortes pressões inflacionistas e possíveis convulsões sociais".
"Na verdade, Angola não precisa de menos despesa ou de austeridade. Pelo contrário, necessita sim de maior despesa eficaz", defendem, sublinhando que "boa parte da despesa é descontrolada, não se sabe o seu destino, é resultado de sobrefacturação, esquemas corruptos, negociatas endógenas".
Por isso, "muito mais do que nos Estados Unidos de América, é em Angola que seria fundamental um programa como o de Elon Musk e o seu DOGE (Departamento de Eficiência Governamental) com vista reduzir a burocracia e optimizar a máquina pública de Angola cortando gastos fantasmas e inventados e reformulando agências governamentais".
O CEDESA advoga também a introdução de mecanismos de concorrência na contratação pública e renegociação da dívida externa para "não continuar a pagar os biliões em capital todos os anos" com impacto no desenvolvimento angolano.
"O pagamento da dívida externa nos termos em que está a ser feito é um obstáculo ao crescimento do país", concluem os investigadores.