De acordo com o governador provincial do Zaire, Adriano Mendes de Carvalho, estão criadas as condições para o acto central, sendo que o responsável apelou a uma participação massiva da população: "Devemos homenagear os nossos heróis do 4 de Fevereiro, que em 1961 desencadearam uma acção heróica que culminou com a Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975", afirmou, citado pela Angop.
A nível local o programa das comemorações envolve actividades políticas, desportivas e recreativas, sob o mote "Preservando os Valores da Pátria, Honraremos os nossos Heróis".
No anúncio das comemorações do 4 de Fevereiro, o Governo afirmou que este ano será necessário fortalecer a continuidade de um processo de mudanças históricas decorrentes das eleições gerais de Agosto.
As celebrações decorrerão em todo o território nacional, bem como nas missões diplomáticas e consulares de Angola até ao próximo dia 20.
4 de Fevereiro: as 'versões' da história
Várias versões do "4 de Fevereiro" de 1961 ainda não permitem definir uma história clara sobre o que aconteceu, quando um grupo de cerca de duas centenas de angolanos, munidos de armas brancas, atacaram vários postos militares do regime colonial português, tendo sido "recebidos" a tiro.
Os ataques, segundo números oficiosos, provocaram a morte de 40 insurgentes e seis militares portugueses e assinalaram o ponto de partida, quer interna quer externamente, para uma maior consciencialização em Angola, num período em que vários países africanos acediam à independência e acabavam com o jugo colonial, abrindo portas à luta política e armada, que iria prosseguir até 1974.
A consciência dos angolanos despertou para a necessidade de "libertação", com os jovens a envolverem-se em actividades políticas clandestinas contra a ocupação colonial, enquanto outros se juntaram à luta armada no interior do país, que culminou com a independência, a 11 de Novembro de 1975.
Segundo vários historiadores angolanos e portugueses, estima-se entre 200 e 250 os protagonistas do "4 de Fevereiro", que atacaram a Casa de Reclusão, a Cadeia da 7.ª Esquadra da Polícia, a Sede dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT) e a emissora oficial de Angola.
Há três versões sobre essas ocorrências, mas todas coincidem quanto à utilização de armas brancas. A primeira diz que os angolanos armados de catanas, em quatro direcções, atacaram aqueles locais.
A segunda aponta que o descontentamento do sistema colonial era tanto que células de Luanda (na sua maioria do Movimento Popular de Libertação de Angola - MPLA) desenvolviam actividades políticas na clandestinidade. O plano de ataque consistia em dois grupos que investiriam contra dois objectivos militares, designadamente a Casa de Reclusão e a Cadeia da 7.ª Esquadra da Polícia.
Desta acção conseguiriam armas de fogo para atacar os CTT e a emissora oficial, podendo informar ao mundo das revoltas dos angolanos contra o regime colonial, com o MPLA a reivindicar a autoria moral do "4 de Fevereiro".
A terceira versão associa as duas primeiras e conta de forma quase anacrónica os factos. Tudo começa com o ataque à Casa de Reclusão, em que o insucesso do ataque dispersou os protagonistas. Simultaneamente, dois outros grupos que se preparavam dispersaram-se. É assim que se realiza uma emboscada, onde é morto um cabo português. Os revoltados apoderaram-se das suas armas e dirigiram-se à 7.ª Esquadra da Polícia, numa ofensiva, cujo insucesso resultou em mais de quarenta mortos e muitos prisioneiros.
Visto que Luanda tinha a característica de pluralidade sociocultural, admite-se que pouco se importavam da cor partidária, na altura, querendo apenas a libertação.
Na versão oficial angolana sobre os acontecimentos da madrugada de 4 de Fevereiro de 1961 é indicado que grupos de guerrilheiros angolanos, comandados por Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, Domingos Manuel Mateus e Imperial Santana, num total de 200 homens armados com catanas, desencadearam uma série de acções na cidade de Luanda. Um desses grupos montou uma emboscada a uma patrulha da Polícia Militar, neutralizando os quatro soldados, tomando-lhes as armas e as munições, tentando, depois, libertar os presos políticos, num ataque frustrado à Casa da Reclusão Militar.
Outros alvos foram as cadeias da PIDE, no Bairro de São Paulo, e a 7.ª Esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP), onde havia também presos políticos.
Tentaram igualmente ocupar a "Emissora Oficial de Angola", estação de rádio ao serviço da propaganda do Estado. Nestas acções, morreram 40 guerrilheiros, seis agentes da Polícia e um cabo do Exército Português, junto à Casa da Reclusão.