Ver Angola

Política

UE/África: analista Osvaldo Mboco pede “agenda africana comum” para cimeira

Um especialista angolano em relações internacionais defendeu esta Terça-feira que os Estados africanos devem adoptar uma “agenda africana comum" para a cimeira com a União Europeia (UE), definindo prioridades, entre as quais o acesso às vacinas contra covid-19.

:

Para Osvaldo Mboco, era prudente que os países africanos fossem para a cimeira de Bruxelas, com uma agenda africana comum onde se definiriam as prioridades, fundamentalmente para se travar as desigualdades no acesso às vacinas da covid-19.

O continente africano debate-se esta Terça-feira com a "incapacidade de vacinar a sua população e a Europa tem basicamente sua população quase toda vacinada, e vão agora para a terceira dose", lembrou o especialista, considerando "fundamental o fortalecimento das relações nesse domínio".

"No intuito de permitirmos com que mais vacinas cheguem ao continente africano, porque estamos a falar de uma pandemia que é um problema global cuja solução também deve ser global, então essa é uma das questões", afirmou esta Terça-feira Osvaldo Mboco em entrevista à Lusa.

A 6.ª Cimeira União Europeia/União Africana (UA) vai decorrer em Bruxelas, Bélgica, nos dias 17 e 18 de Fevereiro de 2022, congregando chefes de Estado e de governo, no âmbito de uma agenda comum para o estabelecimento da aliança Europa-África.

A igualdade na distribuição de vacinas da covid-19, sublinha Osvaldo Mboco, "não depende apenas da estratégia e da desenvoltura política africana, mas também da vontade política destes Estados europeus" e do sector privado.

"Também não depende só da vontade política destes Estados, porque (...) quem produziu as vacinas são as empresas privadas que investiram muito dinheiro nisso e se se quebra a patente da noite para o dia eles terão de ter uma contrapartida", explicou.

"Agora, ainda que se quebrem as patentes, temos que olhar quais os países africanos teriam condições para produzir vacinas, África do Sul já começou a dar um passo nessa direcção, talvez o Egipto também, porque se tivermos a África do Sul a produzir numa escala continental também poderá reduzir os custos", frisou.

O vice-presidente, Bornito de Sousa, em representação do Presidente, João Lourenço, vai encabeçar a delegação que vai representar Angola neste encontro.

Mboco assinala que encontros do género "são sempre de suma importância" por serem aí, "via de regra, onde os Chefes de Estado e de Governo entabulam contactos de natureza diversa" e às vezes produzem-se mais efeitos à margem da cimeira com contactos bilaterais.

A relação "bastante estreita" entre a UE e a UA, que envolve factores históricos e culturais, "deve ser reforçada" nesta cimeira, mas no campo económico, observou, "as relações necessitam de uma nova abordagem".

"Porque nos relacionamos com os europeus muito mais com a matéria-prima e, depois, essa matéria-prima regressa para África como produto acabado, enquanto há também uma necessidade de olharmos para aquilo que é a transferência de "know how" para o continente africano", argumentou.

A transferência de conhecimentos para o continente africano "vai permitir que os africanos comecem a produzir em seu próprio território e exportem produtos acabados, isto tem um grande impacto".

Osvaldo Mboco considerou também que os vários problemas de África, "como os ataques terroristas, podem directamente ter impacto a nível do mundo, particularmente para a Europa, por colocar em risco os interesses e investimentos europeus no continente".

"Tudo isso é um clima instável que acaba sempre agudizando e criando algum constrangimento. Há também no continente africano a questão do subdesenvolvimento, as guerras e a necessidade de reconstruirmos o continente e construirmos também novos projectos", notou.

Daí que "estas parcerias são extremamente importantes nesses encontros para definirmos o 'modus operandi' e também o nosso futuro do ponto de vista de desenvolvimento para o continente", defendeu.

O especialista angolano acredita igualmente que a UE vai tentar conquistar maior influência em África para tentar "contrapor o crescente domínio" da China no continente africano, considerando existir uma "estratégia este propósito, liderada pelos Estados Unidos da América (EUA)".

"Há uma estratégia do ocidente, que é conduzida pelos EUA e seus aliados, em grande parte os Estados europeus, de reduzir o máximo a influência chinesa em outros espaços e também reduzir ao máximo aquela que é a expansão da economia chinesa e seus projectos, principalmente em África", apontou.

Para Osvaldo Mboco, os países europeus, aliados dos EUA, poderão definir cláusulas para cortar algumas linhas de financiamento chinês "tendo em atenção que há uma abordagem discriminatória que considera existir um novo processo de colonização ao continente africano encabeçado pela China".

O financiamento do crescimento, os sistemas de saúde e a produção de vacinas, a agricultura e o desenvolvimento sustentável, a educação, a cultura e a formação constituem alguns dos temas que serão debatidos na cimeira de Bruxelas.

Relacionado

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.