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Carnaval de Luanda faz-se nem que a festa seja paga às prestações

Dificuldades financeiras para composição da alegoria, entre trajes, adereços e adornos, marcam os últimos ensaios dos grupos de Carnaval em Luanda, que se queixam de apoios insuficientes, que obrigam a pagar a festa em prestações.

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Com 40 anos de participação activa nos desfiles oficiais do Carnaval, considerada maior festa popular nacional, o grupo "União 10 de Dezembro", do bairro do Prenda, distrito urbano da Maianga, em Luanda, aprimora desde Dezembro os ensaios, com o propósito de vencer o desfile central da principal classe de adultos.

O presidente e comandante deste grupo, que venceu por quatro vezes o carnaval de Luanda, Pedro Garcia Vidal, contou à Lusa que os ensaios com vista ao desfile de 13 de Fevereiro decorrem à "medida do possível", com os apoios a serem uma "grande dor de cabeça".

"Estamos mesmo mal e espero que surja alguma coisa. Em termos de alegoria, pagamos já quase 50 por cento, mas ainda falta mais dinheiro para comprar tecidos, que no mercado está muito caro", disse.

Durante mais uma noite ensaios, orientando o grupo infantil que deve desfilar a 10 de Fevereiro e ainda aprimorando os "toques do Semba/Varina" para a classe A de adultos, Pedro Garcia Vidal explica que precisa de "pelo menos" mais 1,2 milhões de kwanzas para "irem dançar" à marginal de Luanda.

"O normal é o grupo de adultos gastar quase 5.800.000 kwanzas para participar mais ou menos e a classe infantil quase 2.500.000 kwanzas", explicou.

Ainda segundo presidente do "União 10 de Dezembro", os actuais prémios atribuídos aos vencedores do Carnaval de Luanda são "inversamente proporcionais aos avultados gastos" que se fazem durante a fase de preparação.

"Não compensa, o prémio infantil é 1.000.000 de kwanzas e de adulto são 3.000.000 de kwanzas. Em suma, a gente gasta mais do que recebe", frisou, realçando que apesar de ter recebido já quase 2,8 milhões de kwanzas do Governo, como acontece com todos os grupos inscritos, o montante "não é suficiente para as despesas".

Este ano, observou, as autoridades "apenas deram dinheiro", sendo que o material, como tecidos que davam nos anos anteriores, não chegaram.

"Só a minha alegoria custa 1.200.000 kwanzas a alegoria das crianças custa 450.000 kwanzas, estamos a fazer os pagamentos em prestações e ainda com muitas dívidas", acrescentou, num cenário que se vive em outros grupos carnavalescos da capital.

Apesar das dificuldades na fase de preparação, o também comandante do grupo, Pedro Garcia Vidal, garante que vai lutar para dar a volta, até porque o "lema do União 10 de Dezembro é vencer".

Fundado a 10 de Dezembro de 1978, o grupo do histórico bairro do Prenda conta actualmente com um total de 608 elementos entre crianças, jovens e adultos, que entre os dias 10, 11 e 13 de Fevereiro descem com folia à marginal de Luanda.

Entre os integrantes está Ana Filipe, de 63 anos, a mais antiga e actualmente rainha do União 10 de Dezembro, que também manifestou crença em arrebatar o troféu central, no desfile da classe A de adultos.

"Este ano vamos à marginal lutar para vencer o prémio, estamos a ensaiar bem, sem problemas e sem qualquer anormalidade até ao momento", disse, sublinhando mesmo que tal como nos anos anteriores vai à marginal da capital "mostrar o melhor".

O papel de rainha, explicou, "é já uma missão habitual" que cumpre todos os anos: "É chegar, dançar e mostrar o nosso melhor", rematou. "Acho que as pessoas deveriam valorizar mais o Carnaval, deveriam sensibilizar os empresários para o apoio a esta manifestação cultural e em contrapartida o Estado daria incentivos fiscais", apontou Pedro Garcia Vidal.

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