Augusto Santos Silva, que esteve em Luanda numa visita de trabalho de três dias, cumpriu uma vasta agenda de trabalho, que incluiu igualmente o encontro com as empresas portuguesas.
José Campos, gerente da Luso Vini, foi um dos participantes na reunião que levou como preocupação o atraso dos pagamentos a fornecedores, situação que, considerou, "dá cabo da tesouraria de qualquer empresa".
Segundo o empresário, esta situação tem obrigado várias vezes a retenção na venda dos produtos ou "um compasso de espera até que dinheiro chegue para poder chegar mais produto".
"É sem dúvida o principal problema com que nos debatemos aqui, porque o mercado continua a reagir bem, há procura dos nossos produtos, o mercado está receptivo, o problema maior é sem dúvida as divisas para pagar esses produtos", frisou, manifestando esperança que a presença de Augusto Santos Silva venha a "ajudar nesta luta de todos".
Por sua vez, António Cunha, sócio-gerente do Grupo 7 Cunhas, manifestou algum optimismo sobre a situação, salientando que nos últimos dias tem melhorado bastante essa preocupação.
"Isto já estamos a sentir. Aquilo que eu tenho referido é que, com o aumento do preço do petróleo, as divisas vão surgir e as coisas vão entrar na normalidade, por isso vamos ter esperança (…) afinal dificuldades há em todo o mundo", disse.
Já António Alves, administrador executivo da Atlanfina, empresa no ramo dos vinhos, elogiou o anúncio da intenção de aumentar a linha de crédito para as empresas portuguesas a operarem em Angola de mil milhões de euros para 1500 milhões de euros, salientando que este instrumento tem sido a alavanca para a manutenção do negócio.
"Em relação à atribuição de divisas e no sector específico em que me insiro, na parte dos vinhos portugueses, de há três anos a esta parte que não temos sido ´bafejados` por nenhuma divisa. Nenhuma transferência digna desse nome, e essa é uma situação que nos preocupa, porque vemos anunciar algumas medidas e alguns leilões e algumas atribuições e de facto na prática não temos recebido nada. Salários em atraso, compromissos em atraso, é uma situação de facto dramática", lamentou.
O governante português referiu que foi inscrita no orçamento de 2017 a autorização da despesa que permitirá, em caso de necessidade, aumentar a linha de crédito para 1500 milhões de euros.
"Estamos neste momento a trabalhar tecnicamente no sentido de validar as candidaturas de projectos e de empresas, a partir de uma proposta angolana, como manda a convenção angolana", informou, adiantando que a linha de crédito actual de mil milhões de euros "está praticamente esgotada".
Augusto Santos Silva recordou que Portugal passou entre 2010 e 2014 por um período de uma crise muito difícil quer do ponto de vista financeiro e orçamental quer do ponto de vista económico e, nesta altura, Angola foi um mercado muito importante para os portugueses, tendo muitas empresas conseguido manterem-se activas através de projectos implantados em território angolano.
"A parceria entre Portugal e Angola é de todas as horas - nas melhores e menos boas -, e somos dois países que recentemente passámos por dificuldades de natureza económica, financeira e orçamental". Em Portugal, "recuperámos e é nas horas mais difíceis que se notam as amizades mais sólidas", frisou.
O ministro português sublinhou que Portugal compreende bem os ciclos económicos, havendo "momentos de maior facilidade e há momentos de maior dificuldade". "É nos momentos de maior dificuldade que se vê a solidez das relações entre os países e as empresas portuguesas que estão a investir neste momento em Angola estão a fazê-lo num período que não é tão fácil como foi por exemplo no princípio do século, mas fazendo-o e permanecendo em Angola estão justamente a consolidar a sua relação e estou certo que os angolanos não se esquecerão disso", disse.