Ver Angola

Cultura

Famílias fazem contas à crise no arranque de mais um ano escolar

Cerca de 10 milhões de alunos regressaram esta semana às aulas, para o ano escolar de 2017, mas as famílias ainda fazem contas aos primeiros gastos, que podem rondar pelo menos 180 dólares por estudante.

:

Numa ronda efectuada pelo São Paulo, uma das principais zonas comerciais de Luanda, a Lusa constatou que pais e encarregados de educação estão a adquirir o material escolar de forma faseada, devido a problemas financeiros.

"Uma pessoa tem de comprar paulatinamente porque não há dinheiro para comprar de uma única vez. Por aqui os preços estão cada vez mais altos, mas temos de comprar porque nas escolas estão a exigir os livros", contou Cícero Cruz à Lusa.

De calculadora na mão, as contas de Cícero Cruz, que trabalha por conta própria para cobrir também as despesas dos dois filhos, um da 2.ª classe e o outro da 4.ª classe, concluem que com cada filho gastou cerca de 180 dólares.

"Temos que fazer muita matemática porque a minha renda mensal não permite que se façam gastos avultados. Comprei cadernos, batas e mochilas", explicou.

As aulas arrancaram a 1 de Fevereiro e prolongam-se até 15 de Dezembro de 2017.

Contas semelhantes são feitas pela funcionária pública Susana Ferreira, mãe de duas estudantes, que explica à Lusa que as dificuldades para a aquisição do material escolar resultam do baixo poder de compra actual, com salários inalterados, inflação a disparar devido à crise e preços especulativos na venda dos materiais.

"Só de pensar que tenho de comprar mais de cinco ou seis livros já é complicado. Por exemplo, só para a compra de cadernos devo gastar não menos de 7000 kwanzas [42 dólares], sem contar os livros, a mochila ou a bata, que são 3500 kwanzas [21 dólares], ainda as esferográficas. No mínimo, tenho de ter mais de 50.000 kwanzas [299 dólares], e é muito complicado", desabafou.

Ainda assim, disse que faz “o sacrifício" pelas filhas: "A solução é apertar o cinto, para ver as minhas meninas na escola".

Dificuldades que Joana Pires também conhece, já que teve de pedir o adiantamento de dois meses de salário para fazer face às despesas do material escolar para os seus três filhos, um no ensino secundário e dois do ensino primário, em Luanda.

"Não dá para comprar tudo de uma só vez, então vou comprando aos poucos. Tenho três filhos e já gastei quase 100.000 kwanzas [598 dólares]. Com aquilo que ganho não dá para conciliar com os gastos da casa, daí que tive de pedir adiantamento salarial para fazer a cobertura da despesa de material escolar", contou esta mãe, solteira e funcionária do sector privado.

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.