"Há algum pessimismo que é desajustado face ao que está a acontecer no terreno", disse Paulo Varela, referindo-se às difíceis condições económicas que Angola atravessa por causa da quebra dos preços do petróleo e do respectivo impacto na economia, que deve crescer 3,3 por cento este ano, uma redução de cerca de metade face aos valores antes da crise das matérias-primas.
Questionado sobre se as empresas portuguesas estavam a sair de Angola no seguimento da redução do plano de investimentos públicos e do aumento das limitações às importações, Paulo Varela afirmou que a maioria está a conseguir aguentar-se.
"A maior parte das empresas tem actividade consolidada: o que tem feito é contenção de custos e manutenção da actividade em níveis que permitam ter o mínimo de dinâmica no mercado, na expectativa de que a economia volte a crescer mais significativamente", disse Paulo Varela, defendendo que uma alternativa viável é usar Angola como porta de entrada para África Austral.
"Não conheço muita gente a abandonar definitivamente o mercado, mas procuram outros mercados alternativos, o que até é saudável e não implica necessariamente sair de Angola, mas sim alargar para a região económica e olhar para esses países de forma mais eficaz", disse o antigo gestor da Visabeira. "A esmagadora maioria das empresas acredita que esta crise é transitória, e sabe que mesmo sem um crescimento económico a dois dígitos, o potencial do país é enorme", disse Paulo Varela.
A conferência que a CCIPA, em colaboração com a Representação Comercial de Angola, vai organizar esta segunda-feira em Lisboa insere-se nas comemorações dos 40 anos da independência e deve contar com a participação da ministra do Comércio de Angola e do ministro da Economia de Portugal.
"Queremos partilhar informação sobre a real situação das diversas acções em curso pelo Governo de Angola para, apesar das dificuldades e dos ventos contrários que resultam da queda expressiva do preço do petróleo, dinamizar a economia, diversificar a actividade económica, e vamos procurar ter um conjunto de interlocutores que vão expor a sua perspectiva sobre o que se está a passar", antecipou o presidente da CCIPA.
"Vamos também apresentar mecanismos de financiamento disponíveis para além do tradicional crédito bancário e fazer uma actualização das potencialidades que poderão existir", acrescentou o responsável.
Com a conferência os organizadores pretendem mostrar "uma visão positiva sem esquecer as dificuldades que o país atravessa, para que os empresários possam perspectivar o ciclo de crescimento que virá a seguir quando os preços do petróleo normalizarem e Angola voltar a crescer de forma significativa e, esperamos, mais diversificada", concluiu Paulo Varela.
O programa da conferência inclui, para além dos ministros do Comércio e Economia de Angola e Portugal, o presidente da Comissão de Mercado de Capitais de Angola, Archer Mangueira, e responsáveis da União Europeia e do Banco Mundial focados no país, entre outros.