"Depois de combates com uma intensidade que não se via na região há décadas, e que causaram um pesado tributo humano, Goma está a enfrentar uma emergência humanitária (...). O aeroporto de Goma é uma tábua de salvação", afirmou Lemarquis na sua conta da rede social X.
"Apelo a todas as partes para que assumam as suas responsabilidades e façam tudo o que for possível para garantir a reabertura urgente do aeroporto. Cada hora perdida coloca mais vidas em perigo", acrescentou.
Lemarquis advertiu que um grande número de feridos precisa de atenção urgente, mas disse que a infraestrutura médica continua sobrecarregada e que "milhares de civis ainda estão privados de assistência para salvar vidas".
Sem o funcionamento do aeroporto de Goma, afirmou, "a retirada dos feridos graves, a entrega de material médico e a receção de reforços humanitários estão paralisadas".
"Trata-se de uma situação de emergência absoluta. Todas as partes envolvidas devem atuar sem demora para permitir a retoma dos voos com ajuda humanitária e garantir o acesso aos fornecimentos de ajuda. A sobrevivência de milhares de pessoas depende disso", concluiu.
O cessar-fogo declarado na Segunda-feira pelo grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), por razões humanitárias, no leste da RDCongo, nação vizinha de Angola, entra em vigor esta Terça, depois de o grupo ter tomado Goma a 27 de Janeiro, na sequência de dias de combates intensos com o exército democrático-congolês e os seus aliados.
O Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) calculou em 900 o número de mortos em Goma e arredores, na sequência dos combates que ocorreram na semana passada, embora o Governo congolês tenha afirmado na segunda-feira que já tinham sido enterrados 2000 corpos na zona.
O OCHA também alertou, no seu mais recente relatório, que "muitos cadáveres ainda cobrem as ruas da cidade" e detalhou que 2880 feridos foram admitidos em centros médicos entre 26 e 30 de Janeiro, embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha estimado o número em 2958.
Na Segunda-feira, completou-se uma semana desde que o M23 - um grupo maioritariamente composto por tutsis vítimas do genocídio ruandês de 1994 - ocupou Goma, numa ofensiva que aumentou a tensão com o vizinho Ruanda, uma vez que o Governo congolês acusa Kigali de apoiar o M23, uma alegação confirmada pela ONU.
Por seu turno, o Ruanda e o M23 acusam o exército democrático-congolês de cooperar com as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), um grupo fundado em 2000 por líderes do genocídio e outros ruandeses exilados para recuperar o poder político no seu país, uma colaboração que também foi corroborada pela ONU.
A actividade armada do M23 recomeçou em novembro de 2021 com ataques relâmpagos no Kivu do Norte e, desde então, tem avançado em várias frentes para chegar a Goma, a capital com cerca de dois milhões de habitantes.
Desde 1998, o leste da RDCongo, país vizinho de Angola, está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de paz da ONU (Monusco).