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Presidente em “diplomacia de jogo de cintura” face ao conflito na Ucrânia, considera analista

Um especialista angolano em relações internacionais classificou esta Terça-feira como “diplomacia de jogo de cintura” o reposicionamento do Presidente em face da invasão russa na Ucrânia, visando a manutenção das relações com as potências mundiais “sem irritante diplomático”.

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Para Osvaldo Mboco, Angola, que também tem interesses no sistema internacional, é um importante actor no continente africano e o seu reposicionamento face à guerra na Ucrânia traduz-se num imperativo para manter as relações com a China, Rússia e os Estados Unidos da América (EUA).

"Daí que obriga, com algumas aspas, o Presidente João Lourenço a adoptar uma diplomacia de jogo de cintura e essa diplomacia de jogo de cintura é que o Presidente João Lourenço deve ter o tacto político no sentido de conseguir manter as relações que tem com as três grandes potências sem criar nenhum irritante diplomático", afirmou esta Terça-feira o especialista, em declarações à Lusa.

Mboco, que comentava a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, que chega esta Terça-feira a Angola para uma visita de dois dias, disse que o posicionamento de Angola face à negociação das quatro províncias da Ucrânia "demonstrou um outro realinhamento" do país.

"Não chamaria que beliscou, mas, tendencialmente, demonstrou um outro realinhamento, tendo em linha de atenção o posicionamento de Angola junto do continente africano e também tendo em linha de atenção aquilo que são os interesses russos instalados em Angola e também o alinhamento estratégico tradicional existente entre estes dois Estados", frisou.

No entender de Osvaldo Mboco, os recentes posicionamentos do Presidente diante do conflito na Ucrânia sinalizaram, por um lado, a "aproximação" com instituições ocidentais, "particularmente com os EUA".

Esta postura "lançou um sinal ao sistema internacional da aproximação de Angola com estas instituições (europeias) e com o Estado americano e de facto os seus parceiros internacionais tradicionais, nomeadamente a Rússia, entendem que há um afastamento agora", apontou.

"E este afastamento não se resume simplesmente no posicionamento na questão da negociação das quatro províncias pela Rússia a nível da Ucrânia, mas manifesta-se em grande medida pelo facto de o Presidente João Lourenço ter demonstrado vontade e intenção de equipar o exército angolano com armamento americano", notou.

"Logo, há aqui uma cooperação que é muito antiga, que tem um grande volume de negócio que era feito com a Rússia e pode deixar ser feito se de facto Angola avançar para a aquisição de armamento americano em detrimento de armamento russo", assinalou.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, Serguei Lavrov, chega esta Terça-feira à capital angolana para se encontrar com o seu homólogo, Téte António, e o Presidente, João Lourenço.

A visita de trabalho do responsável dos Negócios Estrangeiros, com os encontros oficiais previstos para Quarta-feira, acontece numa altura em que Angola, após posicionar-se de forma neutra perante a guerra na Ucrânia, abstendo-se de votar uma resolução das Nações Unidas condenando a invasão russa, em Março, juntou-se em Outubro à maioria dos países que condenaram a anexação de territórios ucranianos pela Rússia.

Angola tem vindo a reposicionar-se nos últimos meses em termos de política externa, aproximando-se dos Estados Unidos da América e da União Europeia, e distanciando-se da Rússia.

Segundo Osvaldo Mboco, a visita do chefe da diplomacia russa a Angola deve servir também para Lavrov "relembrar" alguns acordos bilaterais e "ver qual será a posição da Rússia em Angola, face ao actual reposicionamento do país lusófono no panorama internacional.

A importância de Angola no continente africano foi igualmente sinalizada por este especialista, referindo que a recente visita do ministro dos Negócios Estrangeiros da China e a conversa ao telefone entre João Lourenço e o secretário de Estado norte-americano demonstram o valor do país.

O também analista político considerou ainda que contextos e circunstâncias normalmente definem o posicionamento dos Estados, "por estes competirem entre si", e Angola tem "legitimidade" de redefinir o seu posicionamento no sistema internacional.

"E é isto que Angola está a fazer, porque tem interesses em determinadas matérias, e entende que a sua diplomacia deve ser tratada e direccionada desta forma. Agora é importante que no meio desse reposicionamento de Angola faça alguma diplomacia de jogo de cintura com essas três grandes potenciais mundiais", rematou Osvaldo Mboco.

Em Abril de 2019, João Lourenço visitou Moscovo e discursou perante os 450 deputados da Duma (a Câmara Baixa do parlamento russo) incentivando a uma maior cooperação empresarial em áreas que contribuam para a diversificação da economia angolana.

Angola mantém, há décadas, relações com a Rússia desde os tempos da extinta União Soviética, sobretudo nos domínios militar, educação e saúde.

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