Concentrados, na manhã desta Segunda-feira, na sede da Associação, no bairro da Madeira, distrito urbano da Maianga, arredores de Luanda, os mais de 100 ex-Oficiais Generais, Superiores e Subalternos Reformados foram "surpreendidos por uma equipa negocial do Governo".
Após uma reunião de hora e meia entre os manifestantes, representantes do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) e efectivos da polícia de Luanda, as autoridades propuseram o adiamento da marcha, devido à ausência do chefe do Estado, João Lourenço, em visita privada aos Estados Unidos da América.
A proposta do SINSE e da polícia foi aceite pelos ex-Oficiais Generais, Superiores e Subalternos Reformados, disse o presidente da associação, José Alberto Limuqueno.
"A manifestação foi adiada porque o camarada Presidente, João Lourenço, está ausente, então, para não mancharmos a sua imagem, e para não haver aproveitamento político devido à sua ausência, então decidimos aceitar esse conselho", disse.
"Aguardamos que ele regresse ao país, tome conhecimento da nossa atitude e encontre uma saída, um caminho para a resolução dos problemas, porque há coisas que pensamos que ele domina e por vezes não", adiantou.
A Associação dos Ex-Oficiais Generais, Superiores e Subalternos Reformados pretendia marchar esta Segunda-feira de forma pacífica até ao Tribunal Provincial de Luanda para protestar contra "os descontos abusivos" nas pensões e exigir o pagamento dos subsídios cortados desde 2008.
Em declarações à agência Lusa, José Alberto Limuqueno, na reforma desde 2004, indicou que a Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas deve mais de 49.000 milhões de kwanzas aos mais de 350 associados.
De acordo com o brigadeiro reformado das extintas Forças Armadas de Libertação de Angola (FAPLA), ex-braço militar do MPLA, partido no poder, os oficiais e generais “estão agastados" porque a par dos descontos aos subsídios das empregadas foram também "cortadas remunerações por grau militar".
José Alberto Limuqueno deu conta que no encontro desta Segunda-feira com as autoridades, ficou também acordada a realização de uma reunião com o chefe do SINSE, general Fernando Garcia Miala, para a resolução "serena e urgente" das suas inquietações.
"Vamos encontrar-nos com ele que vai marcar a data para nos receber e vamos avisá-lo que este assunto deve ser resolvido com urgência porque já estamos cansados, frustrados", referiu.
"Também somos seres humanos e temos de ser tratados com alguma dignidade", apontou.
O responsável referiu que o valor global da dívida, que dura há 11 anos e que ronda os 340 mil milhões de kwanzas referindo que o Presidente, João Lourenço, "não pode estar à margem" das preocupações dos ex-oficiais reformados.
Santos António Chimupi, tenente-coronel reformado, agora com 62 anos, lamentou igualmente as dificuldades por que passa junto da família, recordando que "combateu arduamente para a paz em Angola".
"Estamos a sofrer demais, estamos a passar mal, muitos de nós estão a desaparecer, o salário que nos subtraem é demais, trouxemos a paz em Angola, mas somos vistos como gatunos, malandros e analfabetos, não há nenhuma ajuda para nós", lamentou.
Também João José, outro tenente-coronel reformado, sublinhou que decidiram adiar a marcha de protesto por "respeito às autoridades do país", lamentando, contudo, a "ausência de medidas" para a resolução das duas preocupações.