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Angolanos cortam na alimentação e na roupa para fazer face à inflação

Muitos angolanos tiveram de cortar nos gastos na alimentação e na roupa para fazer face à elevada taxa de inflação no país, que cresce a dois dígitos desde 2016, em máximos desde o final da guerra.

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Os angolanos têm de tomar medidas para enfrentar a crise financeira, económica e cambial que o país vive desde finais de 2014, devido à queda nas receitas da exportação de petróleo e consequente subida dos preços dos principais bens de consumo, que só em 2016 ultrapassou os 40 por cento.

"Vivo esta fase muito mal, porque praticamente não deu para fazer nada, os preços estavam muito alterados", conta à Lusa a comerciante Teresa Silas, explicando que devido “aos apertos" da crise deixou de comprar muita coisa para casa.

Até porque, acrescenta, "o dinheiro nunca chegava para comprar tudo" nos últimos dois anos. "Espero que as coisas mudem para melhor, que os preços voltem ao normal e que haja mais emprego para as pessoas", desabafa.

Segundo a lista de produtos seleccionados e analisados todos os meses pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em Dezembro cada pão custava em média, em Luanda, 93 kwanzas, enquanto o quilo de arroz chegava aos 654 kwanza, um frango congelado a 1743 kwanzas e um quilo de carapau era vendido à volta de 4200 kwanzas.

À Lusa, Maria da Conceição, de 35 anos, desempregada e dona de casa, conta que os últimos anos foram de extrema dificuldade para poder manter o sustento dos filhos, face à subida dos preços dos principais produtos da cesta básica.

"Nesses últimos anos vivi mal porque tenho filhos e estou separada já há algum tempo e sem salário e mesada foi realmente difícil. Mas graças a Deus, na medida do possível e daquilo que conseguia, dava aos filhos", diz.

A redução nos gastos, segundo Maria da Conceição, registou-se com maior incidência na alimentação e no vestuário: "Gastei menos e não comprei aquilo que comprava com regularidade".

A cotação do petróleo em alta e a nova governação chegam, para já, para acreditar que 2018 seja melhor, nomeadamente com "preços que sejam acessíveis".

Ainda a recuperar dos efeitos da inflação de 2017, que segundo o INE ficou acima dos 23 por cento, Julieta Baião Manuel conta que nos últimos anos comprou apenas o necessário.

"As coisas realmente estavam muito caras e também muito difíceis, e oxalá melhore neste ano", diz. A solução desta vendedora de 33 anos foi, como muitos angolanos, cortar no mais caro: "Tive de gastar menos porque as coisas estavam muito caras e solução era gastar menos, por isso espero que neste ano o preço das coisas baixe".

Já o motorista Daniel Jacob explica à Lusa que perdeu o emprego em meados de 2016, situação que afectou milhares de angolanos devido à crise, o que o levou a enfrentar "duplamente" as dificuldades.

"Foi muito difícil porque foi mesmo neste período em que perdi o emprego e no desemprego, para poder sobreviver, foi realmente complicado e com muita luta em busca do sustento. E com o pouco nem sequer conseguimos comprar [os produtos] da cesta básica", observa.

Com o novo ano, Daniel só espera que "quem de direito" faça algo para que os preços desçam. "Porque mesmo aqueles que têm um emprego regular também estão a viver momentos difíceis", refere.

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