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Missionário português de 92 anos satisfeito com missão de uma vida em Malanje

Aos 92 anos, o missionário transmontano Telmo Ferraz olha para a Casa do Gaiato de Malanje, com a sensação do dever cumprido, uma história de 55 anos em que ajudou mais de duas mil crianças angolanas.

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"Pela Casa do Gaiato de Malanje, passaram cerca de 2000 rapazes, que ao longo de meio século, e após receberem a devida instrução escolar, se transformaram em ministros, generais, empregados bancários, empresários, advogados, entre outras profissões", disse à Lusa o padre Telmo Ferraz.

Nascido em Bruçó, no concelho de Mogadouro, distrito de Bragança, é hoje visto como "um verdadeiro missionário do bem", por todos quantos se cruzaram na sua vida.

Em 1963, o padre Telmo Ferraz, estabelecia-se em Malanje, para onde foi designado responsável da Casa do Gaiato e que ajudou a construir de raiz numa fazenda a cerca de 10 quilómetros da cidade, junto à estrada que liga Malanje e Luanda

Foi neste local onde instalou esta "sucursal" da Obra de Rua, fundada pelo padre Américo e que se dedica a trabalhar com meninos graves problemas familiares e sociais. "Quando admitíamos rapazes" é porque "não havia outras possibilidades de vida. Muitos destas crianças eram e continuam a ser filhos de raparigas muito novas e que viviam com as avós, e com passar do tempo a única solução era entrarem para a Casa do Gaiato", explicou o sacerdote.

A Casa do Gaiato de Malanje, ao longos da sua vida passou por momentos conturbados, onde por vezes não abundavam géneros alimentares ou roupas.

A Casa do Gaiato de Malanje acabou por ser construída com ajuda de um grupo de rapazes vindos de Portugal e que ali foram acolhidos, e que angariavam fundos, com ajuda do padre Telmo, pelas principais cidades do norte.

Actualmente, a Casa do Gaiato de Malanje, segue mesma orientação, com a diferença de que os rapazes já podem frequentar os estudos até ao 12. ano, que leva à construção de mais três salas de aulas.

A vida e obra do Padre Telmo Ferraz tem sido acompanhada por Henrique Manuel Pereira, professor da Universidade Católicas do Porto, que para além de ter vivências em Malanje, depressa aprendeu a conhecer o padre missionário e a sua obra social.

"A Casa do Gaiato de Malanje era uma fazenda abandonada e cheia de capim e com um pequeno grupo de rapazes que foi de Portugal para Angola” transformou um espaço abandonado numa “aldeia modelar que acabaria por mudar a vida de muita gente e se transforma numa lição de lusofonia ", frisou o investigador.

O investigador disse à Lusa dar a conhecer a vida e obra do Padre Telmo Ferraz constitui uma questão de justiça.

"Em 2013, quando a Obra de Rua fez 50 anos, em Angola, decidi reunir tudo o que o padre Telmo escreveu no jornal o Gaiato, que acabou por transformar numa radiografia da situação sociopolítica de Angola, sobre tudo nos anos de guerra, onde foi preciso levantar por duas vezes a aldeia do Gaiato", explicou.

Antes de ir para Angola, o padre da diocese Bragança - Miranda, deixou, igualmente, uma marca profunda durante a construção da barragem de Picote, no concelho de Miranda do Douro, onde denuncia e acompanha as condições desumanas dos operários, no seu livro, "O Lodo e as Estrelas" que acabaria por ser proibido pela PIDE.

"Após este trabalho em prol dos mais desfavorecidos, o padre Telmo Ferraz, acaba por se transformar numa autoridade moral em Portugal e Angola", concluiu Henrique Manuel Pereira.

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