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Ambiente

Agricultura e construção de estradas ameaçam “planta detergente”

A desmatação em várias áreas de Angola, para agricultura e construção de estradas, está a ameaçar a espécie Mutonga-Tonga, conhecida localmente como a "planta detergente" e ainda utilizada para lavar roupa ou para tratamento de doenças.

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O alerta foi feito pela botânica do Museu Nacional de História Natural, Leonor Pedro, que juntamente com outros dois especialistas realizou em 2016 um estudo sobre a planta e a sua relação com as comunidades locais, sobretudo nas províncias do Cuanza Norte, Cuanza Sul, Uíge, Malanje, Lunda Norte e Lunda Sul.

"Estamos a assistir a uma desmatação em várias zonas e daqui a algum tempo isso vai-nos preocupar muito, porque em algumas comunidades a planta ainda é utilizada no dia-a-dia das populações", explicou a especialista.

A botânica falava à Lusa, em Luanda, à margem de uma palestra sobre a importância da "Phytolacca dodecandra L'Hérit", espécie que também é altamente tóxica (dependendo das quantidades) e que está presente em vários países africanos.

A partir das folhas e frutos, a planta é utilizada no nosso país para produzir um detergente natural, para lavagem - juntamente com a água dos rios - da roupa e do corpo, contendo substâncias naturais utilizadas na produção industrial do sabão, daí o nome pelo qual é conhecida.

Leonor Pedro defende por isso que a aposta numa produção de sabão tradicional e nacional a partir desta planta permitiria garantir a protecção da Mutonga-Tonga, uma trepadeira que se reproduz em matas e florestas húmidas, com um arbusto ramificado cujas hastes podem chegar aos 20 metros de comprimento.

"É um processo simples de produção do sabão e poderia travar o desaparecimento de uma planta que faz parte da história de Angola. Era utilizada no tempo colonial como sabão. Depois, com o agravar da guerra, em 1992 e 1993, algumas zonas, como o Cuanza Norte, que ficou cercado, o único sabão que estas pessoas tinham era feito a partir da planta", recordou a especialista.

Durante o estudo de campo, realizado no Cuanza Norte, os investigadores constataram as qualidades enquanto planta detergente, mas também outras utilizações ainda dadas pelas gerações mais velhas, desde logo para tratar conjuntivites, otites, malária, doenças respiratórias ou para cicatrizações.

"Temos até o caso, durante a guerra, da sua utilização para produzir um veneno para apanhar peixes, de forma silenciosa", explicou ainda Leonor Pedro, recordando que no Cuanza Norte a raiz da planta é ainda utilizada para matar e caçar corvos, chacais ou aves.

"É uma planta que, por toda uma importância, científica, sociocultural, na veterinária e até na construção civil, urge preservar", concluiu, aludindo ao rápido crescimento da desmatação no país, para a implementação de fazendas de grandes dimensões, o que ameaça o habitat natural desta espécie, que possuiu folha, flor e fruto.

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