“O VêSó surge nos bairros porque acreditamos que é lá onde Angola acontece”
É Angola. Os seus bairros, a sua cultura. A mais pura das realidades. Sem esconder nem julgar. Só para ver… ou para ver só.
Amadores e profissionais envergam as suas câmaras fotográficas pelos recantos onde o país acontece a cada dia. Onde nascem ideias e se ultrapassam desafios do quotidiano. Os lugares e as maravilhas “cá da banda” pela lente de quem acredita que a fotografia pode ser muito mais do que a busca pela imagem perfeita. Aqui, são negativos de um povo, revelados posteriormente em álbuns de cultura.

Qual o ponto de partida do VêSó? Como é que começaram?
A convite de fundador do projecto, Verga Lopes Delgado, um grupo de amigos reuniu-se no seu Bairro, o Bairro da Coreia em Luanda, para registar em fotografia as particularidades do bairro. O Verga ia mudar-se da Coreia e queria manter um registo em imagem dos locais onde brincara e crescera, uma lembrança do seu bairro e da forma que sempre o conheceu, antes de qualquer requalificação. Assim fizemos no dia 4 de Outubro de 2014 e a animação contagiante da partilha de imagens que recheou os dias seguintes trouxe a todos uma certeza: tínhamos que continuar. Tinha nascido o VêSó.
Porquê o nome VêSó?
Porque o objectivo principal é Angola, seus bairros e sua cultura, na sua mais pura realidade, sem esconder e sem julgar. Queremos que as pessoas vejam só.
“Fotografar é colocar na mesma linha, a cabeça, o olho e o coração” Henri Cartier Bresson
Qualquer pessoa pode participar nas saídas fotográficas?
Qualquer pessoa que queira vir connosco pode participar nas saídas fotográficas, todos são bem-vindos. Sempre dizemos, para participar, só tens que os olhos bem abertos e energia para caminhar.
Há fotógrafos profissionais a acompanhar a equipa?
Sim, o grupo é bem misto. Temos desde fotógrafos profissionais a simplesmente amantes de fotografia. Portanto as saídas também são uma oportunidade para quem queira aprender mais sobre fotografia.
São bem recebidos quando fotografam nestes locais?
No geral somos muito bem recebidos. Algumas pessoas gostam de ser fotografadas, e nos oferecem situações únicas de fotografar. Também encontramos gente mais reservada, e respeitamos, quando não autorizados, não damos o “click”.
Para quando uma equipa do VêSó nas províncias? Já lhes propuseram esta hipótese?
Felizmente já estamos em algumas. Começamos com a primeira expansão em Setembro de 2015 na província da Huila. De lá até hoje, além de Luanda (sede) e Huila, temos delegações em Benguela e Huambo. Muito em breve, teremos uma equipa no Namibe.
"O calor com que somos recebidos tem sido uma tónica comum em todos os bairros" Cátia Arnaut
Um banco digital de imagens da vivência angolana sempre foi um dos objectivos. Quando esperam ver esse projecto concretizado?
Sim. Este é um dos nossos subprojectos no momento, tornar o nosso acervo fotográfico disponível a todos. Acreditamos que até o final do ano teremos a primeira versão do banco digital.
A utilização das fotografias será aberta a todos os potenciais interessados?
A utilização das fotografias deve ser autorizada por nós e leva em consideração a conservação dos Direitos do Autor. Quem esteja interessado deverá dirigir-se à coordenação do projecto por e-mail e obter autorização escrita.
Quase dois anos depois do início do projecto, que balanço fazem? As exposições têm boa adesão?
Depois de termos regressado a Coreia para a nossa primeira exposição, tivemos um 2015 recheado de saídas fotográficas e exposições pelos bairros mais emblemáticos de Luanda. Terminamos o ano de 2015 com uma exposição anual que mostrou Luanda, Kwanza-Sul e Lubango de diversos ângulos.
O ano de 2016 tem-nos trazido mais desafios e razões para continuar. Fomos convidados a representar Angola através de uma selecção de 60 fotografias na Exposição Africas, a decorrer no Brasil. Tivemos vários fotógrafos integrantes do projecto premiados em diversos concursos através de fotos feitas durante as nossas saídas. Fomos convidados a expor as nossas fotos em diversos locais e eventos. E acima de tudo, conseguimos levar a ideia além de Luanda.
As exposições, principalmente as feitas nas ruas dos bairros fotografados, são emocionantes. Temos tido vários visitantes externos, mas principalmente, um feedback positivo dos moradores, que têm a oportunidade de levar consigo a sua fotografia após três meses do registo.
Passados quase dois anos, só temos a dizer que valeu e tem valido a pena. Ao longo deste tempo, passamos de um projecto a uma associação, e de uma associação a uma grande família. Fotógrafos profissionais, amadores, curiosos e instagramers fazem parte desta família. Afinal, o ponto de vista de cada um é único e importante, e só assim conseguimos enriquecer o acervo de imagens dos nossos dias.
Os meios de comunicação social também contribuíram muito para a expansão do projecto. Sempre nos apoiaram nas nossas iniciativas e temos inúmeras referências na TV, jornais e Internet.
O balanço? É definitivamente positivo.
"Hoje podemos dizer que já nos tornamos embaixadores da cultura angolana internacionalmente"

Como é que o VêSó olha para o futuro?
Quando começamos em Outubro de 2014 nenhum de nós imaginava que o projecto ganhasse a dimensão que tem hoje. Foi todo um processo natural, que foi crescendo entre iniciativas dos próprios impulsionadores do projecto bem como através de parcerias com outras entidades que foram surgindo ao longo do tempo, muito fruto da visibilidade que fomos tendo junto dos órgãos de comunicação social.
Hoje podemos dizer que já nos tornamos embaixadores da cultura angolana internacionalmente, porta aberta através da nossa participação na exposição Áfricas no Brasil. Estamos a lançar o projecto internacionalmente e os primeiros passos já foram dados em Portugal. Temos um livro já pronto para lançar e tudo isto foi alcançado em pouco mais de um ano e meio.