Ver Angola

Política

Osvaldo Mboco: Paul Kagamé tem sido “elemento perturbador” para a paz na RDCongo

O professor de relações internacionais Osvaldo Mboco disse esta Segunda-feira que a ausência do Presidente ruandês na cimeira tripartida para a paz na RDCongo adiada, demonstra que Paul Kagamé tem sido o "elemento perturbador" a nível da região.

: Correio da Kianda
Correio da Kianda  

"[Paul] Kagamé tem estado a fintar os esforços levados a cabo por Angola no sentido de se encontrar a paz no leste da República Democrática do Congo (RDCongo), porque esta exigência do Presidente Kagamé (conversações directas com o grupo armando M23) foi feita no Sábado para Domingo, quando já estavam acertados alguns pontos", afirmou esta Segunda-feira o docente à Lusa.

A cimeira tripartida de Luanda – Angola, RDCongo e Ruanda, sob mediação angolana, para a paz no leste congolês – acabou por não acontecer no Domingo já que apenas compareceu na capital o Presidente da RDCongo, Félix Tshisekedi.

O Presidente do Ruanda, Paul Kagamé, não compareceu, uma ausência que, para Osvaldo Mboco, reforça a necessidade de os dois chefes de Estado fazerem cedências para uma efectiva paz e estabilidade no leste da RDCongo.

"Se as partes não fizerem cedências dificilmente vamos encontrar a paz no leste da RDCongo. Num processo de negociação ninguém pode perder tudo e ninguém pode ganhar tudo, também e em função disto era esperado que as duas partes fizessem cedências", referiu.

Considerou que a ausência de Paul Kagamé, em Luanda, onde era aguardado por Félix Tshisekedi, pelo Presidente João Lourenço (na qualidade de facilitador do processo de Luanda) e pelo ex-Presidente do Quénia Uhuru Kenyatta (na qualidade de facilitador do processo de Nairobi), entre o M23 e a RDCongo "demonstra claramente" que o Presidente do Ruanda "tem sido o elemento perturbador a nível da região".

Recordou que a ausência de Paul Kagamé "não é nova, é recorrente em cimeiras com este formato".

Mboco entendeu, por outro lado, que a falta de comparência do chefe de Estado ruandês é sintomática do desinteresse deste para a pacificação no leste da RDCongo, aludindo aos relatórios da ONU sobre alegado envolvimento de tropas do Ruanda nas fileiras do Movimento 23 de Março (M23), que está em conflito com o exército regular congolês, e a "pilhagem" dos recursos provenientes da RDCongo.

Com um acordo de paz dessa natureza, prosseguiu, o Ruanda "vai deixar de pilhar os mineiros da RDCongo e isso pode pôr em causa o desenvolvimento que ele tem estado a ter por via da pilhagem dos recursos".

"Claramente que não estamos a defender que o Ruanda deve explorar de forma ilegal os recursos da RDC", sustentou.

O analista admitiu igualmente a probabilidade de o Ruanda já não ver Luanda como um interlocutor válido neste processo para a paz na RDCongo, referindo ser esta uma das varáveis que podem justificar a ausência de Paul Kagamé na capital.

"Penso que [Paul] Kagame se escudou deste elemento para dizer que não é um problema do Ruanda, mas sim do M23 com a RDCongo e, então, eles devem ambos tratar esse assunto (paz) e não com o Ruanda, que penso ser uma posição perigosa e falaciosa, porque é do domínio público que o M23 tem o apoio do Ruanda e que quando se sentem pressionados entram nas matas do Ruanda para reorganização da sua actuação", concluiu Osvaldo Mboco.

O Governo ruandês disse no Domingo que o adiamento da cimeira tripartida de Luanda sobre a paz na RDCongo se deveu a "questões críticas por resolver" e acusou as autoridades congolesas de ameaças.

Em causa, segundo um comunicado do Governo ruandês, estão conversações directas com o grupo armado M23 para alcançar uma solução política para o conflito no leste da RD Congo, ponto sobre o qual não houve consenso na reunião de Sábado.

Em declarações aos jornalistas, o chefe da diplomacia angolana adiantou que o acordo apresentado por João Lourenço para negociação entre RDCongo e Ruanda estava negociado "a 99 por cento" e envolve três questões, a primeira das quais, relativa ao desengajamento das forças, a segunda sobre a neutralização das Forças Democráticas pela Libertação do Ruanda (FDLR) e a terceira sobre o M23".

Segundo Téte António, o último ponto foi negociado a nível ministerial no Sábado "até muito tarde", não tendo sido possível chegar "a uma convergência de pontos de vista".

Relacionado

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.