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Bairros de Luanda ainda recordam o vaivém de ambulâncias da febre-amarela

Dezenas de famílias do bairro Diogo Batalha ainda sofrem ao recordar a febre-amarela que ali afectou dezenas de pessoas, não fosse este o epicentro de uma epidemia que matou mais de 370 pessoas em Angola num ano.

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Tudo começou a 5 de Dezembro, com os primeiros casos a surgirem e multiplicarem-se nas imediações deste bairro do município de Viana, arredores de Luanda, junto ao também conhecido "Mercado do 30", perante o alarme da população.

Lina António ainda mora neste bairro e, em conversa com a Lusa, recordou o drama de ter perdido a filha, de sete anos, vítima da doença. "Depois de algumas análises clínicas que fizemos, já no hospital do Capalanga [Luanda], apercebemo-nos que ela estava infectada pela doença, na altura o hospital estava sem medicamentos e a menina não conseguiu reagir, porque depois ficou a falta de sangue", explicou a mãe.

Para Lina António, apesar da aflição no seio da sua família, que conta mais quatro crianças, o receio foi na altura minimizado com a vacinação dos filhos e restante família no hospital. "E conversamos com eles [irmãos], de que a doença era passageira", recordou.

Um drama que Rosa Albertina, do mesmo bairro vizinho do "Mercado do 30", epicentro da epidemia, viveu de perto, quando teve dois dos filhos às portas da morte.

"Estivemos muito preocupados, porque a doença se alastrava com uma velocidade impressionante, aqui em casa duas crianças ficaram afectadas pela doença e os primeiros socorros eram feitos com recurso ao alho de quimbundo, limão e algumas ervas. Só de seguida é que acorríamos ao centro de saúde", contou, sobre o tratamento tradicional que muitos ainda tentavam fazer.

Um período difícil do qual ainda guarda a memória dos dias seguidos em que o que mais circulava no bairro eram viaturas com cadáveres, vítimas da doença.

Também Rosa Albertina recorda os dias de aflição vividos no bairro, que justifica com o lixo acumulado: "Era aqui mesmo nesta zona onde as pessoas depositavam enormes quantidades de lixo que o ‘Mercado do 30’ produzia e o cheiro nauseabundo inundava o bairro todo".

Juntando o lixo às águas paradas da época das chuvas e o cenário ter-se-á revelado propício à multiplicação do mosquito transmissor da doença. A transmissão da doença é feita pelo mosquito aedes aegypti, que segundo a OMS, em algumas zonas de Viana, chegava a estar presente em 100 por cento das casas.

Todos os dados, segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde, confirmam uma clara regressão da epidemia em Angola, e o último caso oficialmente confirmado de febre-amarela, após análises laboratoriais, remonta a 23 de Junho.

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