As bancadas podem ser improvisadas em plena areia pelas mulheres dos pescadores da ilha, mas manda o negócio que se for preciso até no interior dos pequenos barcos artesanais, já ancorados na praia ou ainda em água. Tudo a poucas centenas de metros do centro da cidade de Luanda.
A "lambula", uma sardinha de tamanho maior, ou o carapau e o peixe-galo são os peixes mais procurados junto das peixeiras, por norma também naturais desta ilha, que está ligada à cidade por um pequeno cordão de terra.
Ponto obrigatório para a compra de peixe fresco em Luanda, em qualquer altura do ano, as regras do negócio são simples: chegar bem cedo pela manhã, não se deixar intimidar por alguma falta de cuidados de higiene e tentar sempre negociar o melhor preço junto destas mulheres.
Num dia em que o carapau esteve em evidência nas capturas - depois da habitual proibição anual de pesca, durante três meses -, Antonica da Silva, peixeira da ilha de Luanda (ou do Cabo), vende oito por 500 kwanzas.
"Com a venda aqui dá para remediar e conseguimos sustentar a família", explica, em conversa com a Lusa durante o negócio, que ainda envolve mais três jovens, os que tratam da embarcação.
Um pouco mais à frente, Justina Jacinto, de 44 anos, quase metade dos quais a vender peixe na ilha, começa por explicar que, além de um negócio, o que faz é continuar uma tradição local.
"Apesar das grandes superfícies também comercializarem o produto os clientes não param de frequentar o mercado [locais de venda na ilha]. Apesar das peixarias que existem na capital, muitos preferem o peixe que aqui nós vendemos" acrescenta.
O período em que esteve em vigência a proibição da captura do carapau, de Junho a Agosto, conta a peixeira Isabel José, na actividade há 15 anos, foi o "mais difícil". Recorda que nessa fase as embarcações estavam todas paradas e "pouco ou nada se conseguia para sustentar a família", tendo em conta que o carapau é o peixe "mais rentável".
Em pleno calor de Dezembro em Luanda, afirma que o negócio começa a correr melhor.
"Conseguimos sustentar a família, quanto mais pescamos, mais lucramos e assim vamos fazendo a vida", diz.
Ainda assim, nas contas de Isabel José a afluência já foi melhor, o que se deve à multiplicação dos pontos de venda de peixe pelo centro de Luanda.
"Agora os clientes vão aos supermercados", observa esta peixeira.
Com 13 anos de experiência a vender peixe na ilha, Maria Manuel João faz contas e diz que consegue levar para casa, todos os dias, entre cinco a dez mil kwanzas, com o que compra aos homens do mar.
"O negócio corre mais ou menos, temos muitos clientes. Felizmente hoje há muito carapau e estamos a vender bem. Ganhamos alguma coisa que dá para suster a família", conta à Lusa.
E apesar das condições de venda, garante que os clientes "preferem" este tipo de venda: "o peixe fresca fresca é melhor, não o congelado".
Só em Luanda estima-se a existência de mais de mil embarcações de pescas artesanais, grande parte concentrada na tradicional ilha de Luanda, que além da pesca é conhecida pelas praias, restauração e vida nocturna.