Perante os frágeis resultados da actividade doméstica devido à crise económica e às necessidades de reforço de capital, e que só este ano começam a ser ligeiramente positivos, a banca portuguesa tem tido nas actividades no estrangeiro um ‘balão de oxigénio’, o que permitiu alavancar as contas do BCP, BPI e Caixa Geral de Depósitos.
No entanto, estas operações não estão isentas de desafios e em 2016 deverão surgir novidades.
O BPI está numa ‘encruzilhada’ quanto à sua operação em Angola, a sua ‘joia da coroa’, que até Setembro representou 70 por cento do lucro que o banco conseguiu, nomeadamente 105 dos 151 milhões de euros totais.
As novas regras do Banco Central Europeu relativas aos grandes riscos têm grande impacto na operação em Angola e obrigarão a alterações profundas.
Para contornar o apertar das regras, em Setembro, a administração liderada por Fernando Ulrich apresentou um projecto de cisão das operações em África, criando uma nova sociedade que junte as participações em Angola (50,1 por cento Banco de Fomento Angola - BFA) e Moçambique (30 por cento Banco Comercial e de Investimentos e 100 por cento no BPI Moçambique).
Os analistas esperavam que fosse convocada uma assembleia-geral até final do ano para abordar o tema, mas até agora nada aconteceu, permanecendo dúvidas sobre a aprovação da cisão pelo espanhol Caixabank (maior accionista do BPI, com 44,1 por cento do capital) mas, sobretudo, pela angolana Santoro, da empresária Isabel dos Santos (segundo maior accionista, com 18,6 por cento). Estarão ainda a ser estudadas opções alternativas, nomeadamente com Isabel dos Santos, que tem poder de vetar o negócio.
Uma das hipóteses será a redução da participação actual do BPI na unidade angolana pela venda de uma parte adicional do BFA à Unitel, empresa que detém 49,9 por cento do BFA e na qual Isabel dos Santos tem uma participação de 25 por cento.
Quanto ao BCP, a Polónia é a principal operação fora de portas. No próximo ano estão já previstas medidas pelo novo Governo polaco que implicarão custos para o banco, como o caso do imposto extraordinário sobre o sector financeiro ou da lei que converte os empréstimos em moeda estrangeira para zlotys (a moeda local) e cujo impacto no BCP poderá rondar os 300 milhões de euros, valor variável dependendo da forma como seja feita a legislação.
Até Setembro, o BCP conseguiu 118 milhões de euros com a operação na Polónia, 67,6 milhões de euros em Moçambique e 57,4 milhões em Angola, sendo que no total o banco teve lucros de 264,5 milhões de euros.
Já na operação de Angola, o BCP tem prevista a fusão entre o Banco Millennium Angola e o Banco Privado Atlântico. Quando estiver concretizada, o que deverá acontecer nos primeiros meses de 2016, o banco liderado por Nuno Amado passará de uma posição de 50,1 por cento que tem agora no Banco Millennium Angola para 20% na nova entidade, o que implica a perda de controlo efectivo.
Em compensação, consegue aumentar a presença no mercado, ficando com uma quota de cerca de 10 por cento, numa altura em que os bancos são ameaçados pela desaceleração da economia do nosso país muito em função da queda do petróleo.
Entre os principais bancos portugueses, também a Caixa Geral de Depósitos tem uma importante operação ‘fora de portas’. Até Setembro, o contributo da actividade internacional foi de 84,7 milhões de euros para os resultados consolidados totais que foram de 3,4 milhões de euros, pelo que o resultado em Portugal foi negativo em mais de 80 milhões de euros.
Em Novembro, o Jornal de Negócios noticiou que a administração propôs ao governo liderado por Passos Coelho a criação de uma ‘holding’ que junte as suas operações internacionais (BNU em Macau, Banco Caixa Geral no Brasil, Mercantil Bank na África do Sul, Banco Caixa Geral Totta em Angola e Banco Comercial e de Investimentos em Moçambique), sendo que a ideia seria vender 49 por cento a privados, mantendo o controlo público.