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Organizadores da marcha de 11 de Novembro rejeitam violência e manipulação

Os organizadores da marcha convocada para 11 de Novembro demarcaram-se esta Sexta-feira de actos violentos, que dizem estar a ser instigados por pessoas infiltradas, e rejeitaram estar a ser instrumentalizados, como afirmou o Presidente da República, João Lourenço.

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"Demarcamo-nos daqueles que, por si próprios ao serviço do partido no poder [MPLA] e sob liderança e mando dos serviços de inteligência do Estado pretendem passar a ideia de que pretendemos promover a violência", lê-se num comunicado da organização da manifestação, que esta Sexta-feira se fez representar, numa conferência de imprensa em Luanda, por três dos seus seis promotores: Benedito (Dito) Dalí, Laura Macedo e João dos Santos (Mwanangola).

A resposta dos organizadores, os mesmos que convocaram em 24 de Outubro uma manifestação que foi fortemente reprimida pela polícia em Luanda, e terminou com uma centena de detidos, surge na sequência de vídeos postos a circular nas redes sociais que incitam à violência verbal e física, com recurso a insultos e ameaças de morte.

Os promotores da manifestação dizem não se rever na postura e comportamento dos autores dos vídeos, defendendo que a sua iniciativa é "pacífica" e cumpre os fins legalmente previstos, deixando no ar a intenção de, com a cooperação da polícia, "impedir e expulsar (...) quaisquer pessoas que não estejam alinhadas com o pacifismo, urbanidade, civilidade, respeito pela pessoa do outro e pelas leis justas".

Os organizadores salientam, por outro lado, que é "estranho" que as pessoas que surgem nos vídeos não sejam responsabilizadas, enquanto se promovem campanhas nas redes sociais e órgãos de comunicação públicos contra os organizadores da marcha, a quem imputam "responsabilidade de terceiros que podem ser identificados".

No comunicado, criticam ainda o "partido no poder" por apelidar de "arruaceiros, inimigos da paz, vândalos e frustrados" todos os que se manifestam publicamente "contra o desrespeito pelos direitos humanos, pela boa governação, contra a corrupção e por uma comunicação social do Estado respeitadora da liberdade de imprensa".

Questionado sobre as declarações de João Lourenço que, enquanto presidente do MPLA, aconselhou os jovens a não se deixarem manipular, acusando a UNITA, principal força da oposição de estar a criar a instabilidade, Dito Dalí rejeitou o que classificou como "um insulto barato".

"Não precisamos de uma força política para nos lembrar que precisamos de trabalho, que não temos comida, que não temos água em nossas casas, que precisamos de reformas", frisou.

Para o activista, a "nova era de agitação" que Angola vive neste momento é "fruto da consciência dos cidadãos", reafirmando que a luta dos que se manifestam "é pela cidadania".

Sobre a possível adesão de forças da oposição ao protesto afirmou que seria um apoio bem-vindo, pois nada proíbe que participantes de partidos políticos se juntem a manifestações organizadas pela sociedade civil.

Laura Macedo, que participou na anterior manifestação e esteve detida durante uma semana, saindo no Domingo condenada por desobediência, respondeu às acusações de manipulação por parte do Presidente, replicando que "não é um espelho" do chefe do Executivo.

"Nós só queremos uma Angola melhor", declarou.

Questionado sobre se irão sair à rua caso seja declarado estado de emergência, Dito Dalí salientou que "o Governo não pode criar leis circunstanciais", que sirvam de "estratégia para impedir a realização da manifestação", afirmando: "Continuamos com o compromisso de sair às ruas, nada nos impede até ao momento".

Sobre uma eventual repetição das cenas de violência e vandalismo na marcha anterior, Dito Dali atribuiu os distúrbios a "infiltrados" que os promotores do protesto vão tentar identificar, considerando que, se voltar a acontecer, "João Lourenço quer criar confusão".

Já Laura Macedo condenou a polícia por ter feito uma "contra-manifestação" ao invés de proteger os jovens.

Dito Dalí abordou ainda o suposto desaparecimento de 300 pessoas durante a anterior manifestação, afirmando que foram localizadas e regressaram a suas casas.

Quanto às duas alegadas mortes, um homem e uma mulher, adiantou que continuam a tentar recolher, sem grande sucesso, mais informações, nomeadamente junto de familiares e vizinhos dos bairros, acusando o Governo de "estar a gerir a situação de modo a não permitir à sociedade saber o que aconteceu".

Os objectivos da manifestação de 11 de Novembro são, segundo os organizadores, exigir a calendarização das eleições autárquicas em 2021, a melhoria das condições de vida e a exoneração do chefe de gabinete do Presidente, Edeltrudes da Costa, alegadamente implicado num caso de enriquecimento ilícito.

A manifestação, que se realiza na Quarta-feira, dia em que se assinalam os 45 anos da Independência de Angola, foi comunicada, a 4 de Novembro, ao Governo Provincial de Luanda, estando prevista uma concentração às 11h00 no cemitério de Santa Ana, que seguirá depois em direcção ao Largo da Independência, em Luanda.

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