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Educação

Ex-ministra lamenta que período pré-colonização não se ensine no país

A historiadora e antiga ministra da Cultura Rosa Cruz e Silva defendeu que o país precisa de ensinar nas escolas a história anterior à presença portuguesa, uma matéria que poderia contribuir para a "união" dos angolanos.

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Na véspera de Angola celebrar 45 anos de independência, que se comemoram no próximo dia 11, a investigadora e professora universitária, que viveu a data na clandestinidade, ouvindo as notícias pela rádio deitada no chão e numa cidade ocupada pelas tropas sul-africanas, admitiu que o país ainda "não tem hoje uma história geral".

A história de Angola continua a ser feita "por partes", mas com mais informação sobre o período da presença portuguesa e do pós-independência, do que relativamente à sua fase inicial de vida, explicou.

E "como não tem havido estudos de angolanos para o período anterior à presença portuguesa, às vezes começa-se a pensar que Angola existe apenas com a chegada de portugueses", afirmou.

Quando o país "é milenar e tem provas da existência humana, da organização social e económica, da formação dos reinos e dos estados", com a existência de "cinco ou seis grandes reinos", frisou.

Na opinião da antiga ministra da Cultura, este desconhecimento "tem consequências" para o país, porque "o ego da pessoa humana, do cidadão tem de ser feito com todas as partes".

Em Angola "as etnias são interligadas. Não há uma que se forme de per si. Não há uma etnia que, para contar a sua história não tenha de se referir a uma origem lá mais para trás, mas que fica no norte, no leste ou no sul" e que está ligada à de outra etnia, refere a historiadora.

Essa história iria permitir "mostrar mais os pontos de união do que desunião" entre os angolanos, realçou, considerando que para se erguer um país é preciso que "haja consenso, unidade, e, sobretudo, forças centrifugas".

Apesar disso, "há um esforço" a ser feito o sentido de que, "no ensino primário, haja já um conhecimento sobre o ponto de partida do povoamento do território até à presença portuguesa", adiantou.

Na opinião da antiga ministra, que integrou desde jovem o MPLA, no ensino em geral do país, mas sobretudo no básico, a informação "ainda é muito esparsa e muito curta a sobre a história, no geral".

"Essa grande lacuna", pode, porém, ser corrigida dentro de algum tempo, porque segundo a historiadora o assunto já foi debatido com o Governo e este está aberto a esse ensino mais aprofundado da história.

Nos anos 1980 e 1990, durante a guerra civil, "estávamos num sistema de partido único e a história deste período concreto, não é que ela fosse falseada, falava das dificuldades decorrentes da situação da presença estrangeira com que o Governo e o partido se bateram para defender o território", recordou.

A história tinha a componente dos movimentos de libertação, que não se podia ignorar, "mas não se dava a informação mais pormenorizada sobre os outros dois movimentos", afirmou.

Naquele modelo de ensino, os outros dois movimentos [União para a Independência Total de Angola, UNITA e a Frente Nacional para a Libertação de Angola, FNLA] "eram vistos numa perspectiva negativa, porque estavam aliados a forças que invadiram o país e que queriam impedir", a independência.

Assim, "a independência foi proclamada com as duas forças contrárias, uma no norte e outra no sul, a tentar impedir a sua concretização", contava a história da altura, desde o ensino primário.

Agora, explica-se aos alunos que houve três independências no país e que só uma foi reconhecida, adiantou.

Segundo Rosa Cruz e Silva, hoje já há também "mais documentação já mais trabalhos publicados, de estrangeiros, angolanos militares e civis (...) sobre os factos na sua verdadeira dimensão".

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