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Cultura

Nascidos em Angola, formados na China

Nascida e criada em Angola, há 23 anos, Nina Fenica completou o ensino secundário na Coreia do Sul e vive agora em Pequim, onde frequenta o último ano da licenciatura em Economia Internacional e Negócios.

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"Porque não? A China é um país conhecido e é a segunda maior economia do mundo", diz, ao ser questionada sobre a opção pelo "gigante" asiático para tirar uma licenciatura.

Todos os anos, entidades governamentais e empresas chinesas oferecem quase 200 bolsas de estudo a estudantes angolanos, incluindo propinas, alojamento, seguro de saúde e um subsídio mensal de 3000 yuan.

A estudante da Beihang (Universidade de Aeronáutica e Astronáutica) lamenta apenas que na China "os professores não ensinem bem".

Natural de Cabinda, Nina vive fora há oito anos, mas nem por isso deixa de acompanhar a situação no seu país: "Angola atravessa uma crise muito forte".

A descida do preço do petróleo no mercado internacional, que é responsável por 76 por cento das receitas fiscais angolanas, afectou gravemente a economia do país, que deve crescer este ano 4,4 por cento - metade do valor inicialmente previsto.

Entretanto, "o Governo chinês tem apoiado com a concessão de empréstimos", refere a estudante.

Segundo fontes chinesas, o montante dos empréstimos e linhas de crédito concedidos pela China a Angola desde 2004, através de vários bancos estatais, ronda os 20 mil milhões de dólares.

Depois de a guerra civil em Angola ter acabado, em 2002, a China tornou-se um dos principais actores da reconstrução do país, nomeadamente das suas estradas, caminhos-de-ferro e outras infra-estruturas.

É também o maior cliente do petróleo angolano.

"Os dois países têm relações muito boas", recorda Nina.

Leonídio Amaral, estudante em Xi'an, capital da província de Shaanxi, na região oeste da China, é menos positivo: "Costuma-se dizer, quem dá 50, tira 100".

"Nada é de graça", lembra o jovem natural de Luanda, salvaguardando que "a China foi dos únicos países que após a guerra civil se disponibilizou a ajudar Angola".

O jovem de 21 anos, que chegou ao país asiático em 2013 para estudar Engenharia Electrónica e Informação na Xi'an University Official, diz que o que mais o surpreendeu "foi o nível de desenvolvimento".

"Nunca pensei que a China tivesse cidades tão desenvolvidas", conta.

As relações pessoais, no entanto, desiludiram: "Em Xi'an, os chineses são pouco abertos aos estrangeiros".

"Certas informações, filmes, notícias e músicas não podem entrar no país. Por isso, os chineses têm pouco conhecimento sobre quem vem de fora, principalmente os negros", explica.

As aulas, leccionadas em chinês, são também "muito difíceis", e Leonídio confessa mesmo que "às vezes dá vontade de desistir".

"Mesmo em português, física e matemática é sempre difícil", conta.

Para travar essa mesma "luta", João Agostinho Chingui, estudante em Chengdu, na província central de Sichuan, inspira-se na "capacidade de entrega total dos chineses quando querem ou têm que aprender algo".

Além do conteúdo do curso de Engenharia de Transportes, que frequenta na Universidade Jiaotong do Sudoeste, o jovem natural da província angolana da Huíla, aprendeu na China "a lidar com as diferenças".

"Temos que pôr em mente que os hábitos e costumes variam, e nunca tentar impor o que gostamos ou estamos acostumados na vida das outras pessoas", explica.

A viver há um ano em Chengdu, João diz que "o mais provável é voltar para Angola depois de terminados os estudos". E assegura: "Se houver oportunidade, irei trabalhar numa empresa chinesa".

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