A barragem de Cambambe, no rio Kwanza, a 200 quilómetros de Luanda, começou a ser construída em 1958 e foi inaugurada a 6 de Outubro de 1963 pelo então Presidente da República português, Américo Thomaz.
Construída pela Hidroeléctrica do Zêzere e de investimento totalmente privado, a barragem surgiu face à negociação para a instalação em Angola de uma fábrica de alumínio, com elevadas necessidades de consumo de electricidade.
A instalação acabou por não se concretizar e a construção que já estava em curso parou sem que fosse concluído o projecto inicial, ficando-se a barragem pela quota de 102 metros (acima do nível do mar) e com quatro grupos geradores (dois só foram instalados em 1969) com um total de 180 MegaWatts (MW) de potência instalada, para garantir os consumos de Luanda.
A conclusão da barragem, com o seu alteamento e reforço da potência, chegou a estar prevista para 1975 e depois para 1982, mas a situação política e de conflito armado no país nunca permitiu retomar a empreitada.
A barragem de Cambambe manteve-se assim inalterada até 2007, quando o Governo decidiu completar o projecto inicial, aumentando a produção dos então 90 MW – capacidade que era mais baixa do que a inicial devido à falta de manutenção - para 960 MW, num investimento de 1,4 mil milhões de dólares em três fases, a cargo da construtora brasileira Odebrecht.
“Foram feitos os estudos e chegou-se à conclusão que o estado da barragem era tão bom que permitia esse alteamento. Estamos a falar de uma barragem com 50 anos e subi-la mais 30 metros”, começou por explicar à Lusa o engenheiro português Luís Pereira, responsável de projecto da Odebrecht.
A primeira fase da obra, que arrancou em 2009, implicou a reabilitação dos quatro grupos geradores já então com praticamente meio século de funcionamento, voltando a colocar a potência de produção em 180 MW.
Seguiu-se a empreitada de alteamento, ainda em curso, que vai acrescentar 30 metros à altura da barragem, conforme previsto no projecto original português, o que por si só garantiria elevar essa produção para 260 MW.
“Basicamente estamos a cumprir o projecto inicial, porque esta barragem, quando foi projectada, já foi para esta quota [130 metros] e para estes parâmetros”, refere o responsável da obra.
A terceira fase, que também está em curso, envolve a implementação de uma nova central, com quatro geradores e um total de 700 MW, que entram em funcionamento, faseadamente, durante o segundo semestre de 2016.
“Em final de Dezembro de 2016 teremos o projecto em fase de cruzeiro”, garante Luís Pereira, um dos cerca de 70 portugueses - entre Odebrecht e empresas subcontratadas - envolvidos actualmente na obra de Cambambe, município da província do Cuanza Norte.
Com estes trabalhos, a área de albufeira do Kwanza vai passar de 1,5 para cerca de seis quilómetros quadrados, com o lago a terminar a três quilómetros do paramento da barragem, o dobro do actual.
A obra teve ainda a característica de estar obrigada a decorrer com a barragem em funcionamento, devido ao forte défice angolano em produção de electricidade.
“Vai gerar energia de uma forma muito satisfatória para Angola. Hoje já estamos com 180 [MW] e com a central 2 vai para 960 [MW]. Isso aí é um ganho fantástico de energia”, reconheceu à Lusa Fabrício Andrade, responsável administrativo-financeiro da Odebrecht no Empreendimento Hidroeléctrico de Cambambe.
A importância de Cambambe, sobretudo pelo abastecimento eléctrico a Luanda, denota-se ainda pela protecção com tanques e artilharia diversa montada na envolvência do empreendimento pelo exército angolano durante a guerra civil, que terminou em 2002.
Hoje é palco de um dos maiores estaleiros de Angola, com 4600 trabalhadores, dos quais 290 expatriados de 20 nacionalidades diferentes, sobretudo brasileiros e portugueses.