Tiago Armando, professor da Academia Diplomática Venâncio de Moura da Universidade Católica de Angola (UCAN) e especialista em relações internacionais falava à Lusa à margem da conferência sobre a promoção da globalização económica universalmente benéfica e inclusiva, no âmbito do Fórum de Cooperação China-África, que decorreu esta Quarta e prossegue esta Quinta-feira na UCAN, em Luanda.
Para o académico, a aproximação de Angola aos Estados Unidos não compromete a cooperação com a China já que Angola é livre de estabelecer relações com qualquer Estado desde que haja conciliação de interesses e respeito pela soberania.
“O facto de estarmos a consolidar as relações com os EUA não implica fragilizar as relações com a China que até são um dos principais parceiros económica dos norte-americanos”, advogou.
Para Tiago Armando é “um privilégio” ter como parceiros as duas maiores economias do mundo,
“Cabe a nós definir projectos estratégicos que possam galvanizar a nossa economia numa perspectiva de desenvolvimento sustentável", disse o especialista, que abordou o tema da cooperação sino africana no contexto da globalização económica.
Sobre as questões geopolíticas, admitiu que as grandes potências procuram projectar o seu poder e exercer influência no continente africano, uma “luta” que é, em parte, condicionada pela própria dinâmica internacional.
“Quase todas as potências estão a correr para África por causa dos recursos energéticos para sustentar as suas economias”, realçou, lembrando que, além da China e dos EUA, também a União Europeia tem os seus projectos para África através da iniciativa Global Gateway, um dos financiadores do Corredor do Lobito.
E se a parceria com a China tem sido proveitosa a nível de resultados, os Estados Unidos estão ainda num processo de consolidação.
“Não existe uma cooperação boa ou má do ponto de vista de resultados, até aqui a cooperação chinesa teve resultados mais significativos mas estamos numa fase de consolidação com os EUA e esperamos que também traga resultados positivos”, sublinhou.
Sobre a visita do Joe Biden a Angola, que deve acontecer na primeira semana de Dezembro, considerou que estas visitas de chefes de Estado servem para consolidar relações diplomáticas e terminam normalmente com assinatura de acordos, sugerindo que estes deverão estar centrados no investimento e sector económico em geral, além do Corredor do Lobito.
“Do ponto de vista estratégico os EUA sabem o que querem de Angola, cabe a Angola também perceber o que quer com os EUA”, apontou o analista.
Também o economista Alves da Rocha considera que não há indicações que as relações com a China não estejam num bom ponto, destacando que a China continua “interessadíssima em África, apesar do “incidente” da não ida do Presidente João Lourenço a Pequim para participar no Fórum de Cooperação China-África.
Sobre a conferência que a UCAN acolhe, organizada em parceria com a embaixada da China, o responsável do Centro de Estudos e Investigação Científica dauniversidade disse que traz uma oportunidade em “dissecar” o modelo de cooperação chinês.
Considerou que há áreas em que este modelo pode apresentar algumas soluções para os problemas de Angola, como a pobreza, “mas cada pais deve reflectir sobre as suas condições e daí retirar as suas conclusões e caminhos para possam contribuir para que o país cresça”.