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Investimento público de Angola na educação é o mais baixo na África Austral, diz Raul Tati

As despesas de investimento e funcionamento no sector da Educação em Angola são as mais baixas na África Austral, o que traduz as “fragilidades do sistema educativo angolano”, considerou no Sábado, em Lisboa, o professor universitário Raul Tati.

: Lusa
Lusa  

Professor no Instituto Superior de Ciências da Educação e no Instituto Politécnico Superior Lusíada, de Cabinda, Raul Tati intervinha na conferência sobre Direito e Política da Educação, que assinala o 30.º aniversário da ELA – European Association for Education Law and Policy, organizada por esta associação e a Faculdade Direito de Lisboa.

"Do ponto de vista das políticas públicas do executivo angolano, as despesas de investimento e de funcionamento na educação são as mais baixas da sub-região Austral (SADC) com apenas 6 por cento, enquanto Moçambique já alcançou a fasquia dos 20 por cento, a Zâmbia com 16,2 por cento, o Malawi com 10,6 por cento, a Zâmbia com 16,2 por cento, Maurícias com 15,7 por cento, Botsuana com 24,4 por cento, a Namíbia com 20,7 por cento, a África do Sul com 19,5 por cento, o Zimbabué com 21,5 por cento e o Lesoto com 31,3 por cento".

"Esses indicadores traduzem também na prática as fragilidades do nosso sistema educativo, a começar pela fraca qualidade do ensino público-estatal, agravada pelo fenómeno da corrupção muito arreigada, quer na venda de vagas de acesso, quer na venda de notas no processo avaliativo", considerou.

Para Raul Tati, terminada a guerra civil angolana, "em contexto pós-conflito, era expectável que as despesas na educação tivessem um incremento significativo".

Tal não aconteceu, apesar do aumento das receitas resultantes das exportações de hidrocarbonetos, de que Angola é um dos principais produtores em África.

"Infelizmente, as despesas exponenciais dos órgãos de defesa e segurança prevalecem ainda hoje, o que se justifica porque Angola continua a ser um Estado securocrata. Várias associações profissionais e cívicas da sociedade civil, bem como a oposição política em Angola batem-se até agora para que o Orçamento Geral do Estado (OGE) coloque a educação como prioridade dos investimentos públicos em Angola", acrescentou.

Raul Tati é o primeiro-ministro do governo-sombra do principal partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

Depois de recordar o "longo período de conflito armado por força de uma guerra civil que devastou o país durante 27 anos (1975-2002)", Raul Tati destacou as consequências humanas, económicas e sociais que configuram, defendeu, uma "autêntica tragédia (...) pelo número de mortos, entre civis e militares, de mutilados, de deslocados e de refugiados".

Os efeitos da guerra civil no tecido educativo angolano assentaram no princípio de que a "doutrina instalada no país era de que a educação não era prioridade num contexto de guerra".

"Tendo em conta que quem vai para a guerra são os jovens, o recrutamento militar obrigatório retirou a milhares de jovens angolanos a possibilidade de estudar. O serviço militar obrigatório foi determinado por lei como prioridade. A escolaridade não era requisito para a incorporação militar. Não admira que uma boa percentagem dos efectivos militares do exército governamental tenha sido composta por jovens analfabetos ou de baixa instrução escolar", frisou.

Raul Tati salientou ainda que durante a guerra civil "houve episódios em que, nos períodos de recrutamento e incorporação militar de jovens (a partir dos 18 anos), o exército realizava operações de captura de mancebos nas ruas e respectivas residências para o serviço militar compulsivo".

"Muitos deles foram arrancados em plena sala de aulas. Da parte dos insurgentes, a realidade não era diferente. Muitos jovens foram raptados, sobretudo nas áreas rurais, e levados para a guerra. Também ficaram sem possibilidade de estudar. O mais grave é que a incorporação militar não era por tempo determinado. Não podiam desmobilizar enquanto decorria a guerra. O resultado, no fim da guerra, foi de milhares de desmobilizados com idade avançada e sem escolaridade", acrescentou.

O "grande desafio pós-conflito devia ser a reconstrução antropológica e moral do tecido humano e social dilacerado pelo ódio fratricida e pelas ideologias deletérias que acirravam as divisões entre angolanos durante três décadas. Neste sentido, a grande arma para esse desafio seria, naturalmente, a educação. A educação é a grande arma capaz de cimentar uma nova cultura de paz e de convivência plural entre angolanos", defendeu.

Raul Tati caracterizou a actual situação do sector da Educação em Angola como um "cenário de desigualdades".

"Cerca de oito milhões de crianças fora do sistema do ensino no actual ano lectivo 2023/24 por falta de vagas, segundo o Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA). Apenas 11 por cento das crianças dos 3 aos 5 anos têm acesso à educação pré-escolar. Registam-se ainda graves desigualdades e assimetrias entre as zonas urbanas e as zonas rurais".

Segundo a UNICEF, a taxa líquida de frequência do ensino primário é de 78 por cento nas áreas urbanas e apenas 59 por cento no meio rural. No ensino secundário esta taxa baixa para 50 por cento nas áreas urbanas e 14 por cento no meio rural, detalhou.

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