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Pedro Domingos Godinho: declínio da produção petrolífera reduz impacto da subida de preços

Empresário do ramo petrolífero, Pedro Domingos Godinho, considerou que a subida do preço do petróleo, derivada da crise energética mundial, “não deverá ser optimizada em Angola”, devido ao declínio na produção por falta de investimentos desde 2014.

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Para o angolano, que valoriza a subida do preço do petróleo no mercado internacional e aponta a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), como "grande estratega" da situação, Angola terá superavit, devido ao diferencial do preço inicial estipulado no Orçamento Geral do Estado (OGE) 2021.

No entanto, esta vantagem deverá ter efeitos reduzidos devido ao declínio da produção. "Estamos recordados que o OGE 2021 foi preparado com uma referência de petróleo abaixo dos 40 dólares e, se hoje estamos a vender a cerca de 80 dólares há-de haver aqui um superavit em relação ao preço inicial, mas esse superavit poderá ser reduzido e afectado com o declínio na produção", disse o empresário à Lusa.

Ou seja, "haverá vantagens com o superavit, mas esta vantagem não será optimizada devido ao declínio actual da produção no país que se deve à falta de investimentos no sector desde 2014 até à presente data", observou.

A crise energética mundial, com efeitos visíveis em vários países europeus e não só, contribui para o aumento da procura do petróleo e consequente subida do preço do produto no mercado internacional.

O empresário, com quatro décadas de experiência no sector petrolífero, entende também que qualquer país produtor de petróleo "está neste momento em vantagem", porque consegue vender mais, o que contribui para o "desafogo das economias tendo em conta os efeitos da covid-19".

"Vamos dizer que, para todos os países produtores de petróleo, tem vantagens, porque o preço sobe e quem vende vai vender mais caro, vai ter uma grande margem de lucro", apontou, alertando, no entanto, para o "efeito dominó do actual cenário".

"Países consumidores, naturalmente, vão ter mais dificuldades e, numa fase, em que a economia mundial se debate exactamente com os efeitos da covid-19, numa fase de recuperação lenta, naturalmente em consequência disso poderão encarecer os produtos finais", sublinhou.

Entre as questões que contribuem também para a subida do preço do petróleo, no entender do empresário, estão os cortes na produção estipulados em 2020 pela OPEP, que descreve como a "coluna vertebral" para este aumento.

A razão fundamental para a subida dos preços, argumentou, "é exactamente a estratégia desenvolvida pela OPEP, essa é a coluna vertebral, a razão principal de todo esse fenómeno que está a acontecer agora".

"A OPEP, como sabe, desde 2020, tomou a decisão de efectuar cortes na produção, mas são cortes estabilizados a nível dos membros e, com isso, foram capazes de reduzir o excesso de petróleo no mercado. O que acontece é que com o efeito covid-19, muitas fábricas e empresas estiveram fechadas devido às medidas que a pandemia impunha", referiu.

Com a retoma da actividade destas fábricas "simultaneamente, a nível de todas as latitudes do mundo, aumentou-se, então, o consumo de energia e, naturalmente, aqueles países que têm uma dependência de combustíveis fósseis tiveram de fazer recurso ao mercado", explicou.

"Já todos nós conhecemos esse binómio da procura e oferta, se aumenta a procura com uma baixa oferta há uma subida desenfreada dos preços", sustentou o empresário.

O também presidente da Câmara de Comércio Americana em Angola (Amcham-Angola) apontou, por outro lado, a previsão de um inverno severo como uma das razões para o cenário actual.

"Porque há uma subida do consumo de energia, portanto havendo esta previsão da necessidade de consumo de mais energia, naturalmente os países começam a criar os seus "stocks" no sentido de enfrentarem o que se avizinha e não havendo uma subida na oferta os preços sobem e essa é exactamente uma explicação para este fenómeno", explicou.

Pedro Domingos Godinho falou ainda da "relutância" da OPEP ao apelo do Presidente norte-americano, Joe Biden, lançados a 11 de Agosto, sobre a necessidade de se aumentar a produção e a oferta do petróleo, "que foi ignorado".

Essa situação, "até ao presente momento, continua a ser ignorada e esse impacto da posição da OPEP naturalmente está a agitar o mercado. Por isso é que sempre disse que a OPEP é um cartel que age contra as leis elementares da economia de mercado", apontou.

"Porque o que fazem [os membros da OPEP] é manipular os preços, reduzindo a oferta desta 'commodity', para haver então esta agitação no mercado e poder contribuir para a subida do preço no mercado internacional", rematou o empresário angolano.

Angola é o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana, tem neste produto a maior fonte de receitas para o país, e preside actualmente à conferência de ministros da OPEP.

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