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Livro “Young Johnny, Lisboa & Luanda Anos 60” vai buscar memórias de tempos velhos

O livro “Young Johnny, Lisboa & Luanda Anos 60”, de João van Zeller, é apresentado esta Quarta-feira, no Hotel Palácio, no Estoril, nos arredores de Lisboa, uma obra de memórias "contra uma visão esquemática da História", afirma Marcello Mathias, que a prefacia.

: João van Zeller (Foto: Igor Martins/Global Imagens)
João van Zeller (Foto: Igor Martins/Global Imagens)  

Na sessão de apresentação, às 18h00, participam o ex-ministro da Educação português Eduardo Marçal Grilo, actual curador da Fundação Francisco Manuel dos Santos, o diplomata Marcello Duarte Mathias e o jornalista Henrique Monteiro, autor do romance "Papael Partdo" (2002).

"Young Johnny, Lisboa & Luanda Anos 60" é um livro de memórias de um homem ligado à comunicação social, que fez parte do núcleo fundador da TVI, sendo "o retracto de um Portugal desaparecido. Já esque­cido para muitos que dele foram contemporâneos, e ignorado por milhões de outros portugueses", escreve no prefácio à obra o diplomata Marcello Duarte Mathias.

"Um Portugal anterior ao 25 de Abril [de 1974], aos tempos da desco­lonização e dos retornados, à revolução e à conquista da democracia, ao nosso ingresso nas Comunidades Europeias", é, realça o diplomata, "a leitura de um outro Portugal".

Se o título remete para a capital angolana, o seu autor, natural do Porto, como aliás o atesta orgulhosamente - "nortenho e portuense de gema como sempre fui" -, nestas memórias faz eco de "algumas inocentes errâncias nocturnas desse tempo, nomeadamente, entre Estoril e Cascais, do Galito ao Caixote, sem esquecer o Estribinho para os lados de Birre [nos arredores de Cascais], onde se ia comer dois ovos estrelados e uma cerveja, já quase de madrugada...!", escreve Marcello Mathias.

Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, João van Zeller foi para Luanda como director do Centro de Informação e Turismo de Angola (CITA), vindo directamente da secção da Imprensa Estrangeira do Secretariado Nacional da Informação (SNI), então liderado por César Moreira Baptista, que chegou, mais tarde, a ministro do Interior, funções que desempenhava a 25 de Abril de 1974, na estrutura do regime ditatorial.

Este cargo na capital da então Província de Angola era um "posto de observação privilegiado que lhe dará acesso a tudo quanto importa ver e conhecer", escreve Mathias.

Segundo o diplomata, "Angola suscita-lhe, de imediato, como que à flor da pele, entusiasmo e deslumbramento. Mais do que uma ruptura, uma descoberta! Porque tudo é novo e desafiante à sua volta: a magni­ficência das paisagens, florestas e desertos; os cheiros, perfumes e sabores; a fruta à venda nos mercados; a cordialidade das gentes, a linguagem dos afectos, as canções e ritmos de vida; o campeonato do mundo de Snipes em Luanda; as mulheres e os panos coloridos que as vestem".

Nas palavras de van Zeller, "Angola era tão improvável, tão cheia de promessa, tão bela, infinita até, que eu sentia nunca estar, de verdade, a chegar ao seu âmago".

A guerra pela independência de Angola, também conhecida como luta armada de libertação, teve início em Fevereiro de 1961.

João van Zeller viajou para o Brasil, entre finais de 1969 e inícios de 1970, onde se encontrou com o escritor com Jorge Amado.

Na opinião de Mathias, o Brasil "provoca [a João van Zeller] a mesma osmose telúrica de alegria, já que no fundo é o mesmo universo, rico das mesmas seme­lhanças e desequilíbrios. A África portuguesa e o Brasil, um jeito despreocu­pado de viver sem urgências, um certo modo de estar afinal, herança que é, simultaneamente, diferença e convergência".

Segundo o diplomata, "estas lembranças [de van Zeller] têm o mérito de nos resti­tuir um passado que não devemos deixar morrer, por ter sido parte do patrimó­nio aventureiro e afectivo de gerações de compatriotas que em terras de África encontraram a sua razão de ser. E que lá viveram e morreram".

Este livro, realça o diplomata, visa "registar o que importa salvaguardar (resgatar, seria mais exacto), dar teste­munho, trazer à tona de água as reminiscências de uma vida ou de uma gera­ção, traçando-lhes o retracto e os caminhos".

"São estas coordenadas que balizam estas centenas de páginas e lhe conferem, entre o sujeito e a sua narrativa, a íntima verdade do texto, a sua função catártica. Contra o esquecimento. Contra a petrificação da memória. Contra uma visão esquemática da História. Contra o desaparecimento de tudo o que nos rodeia. É esta a secreta ambição do que aqui fica escrito. E, feitas as contas, a sua melhor e mais grata lição".

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