A referência foi expressa esta Quarta-feira pelo comandante nacional adjunto para a Gestão da Protecção Civil e Bombeiros, comissário-bombeiro Manuel Lutango, quando discursava no seminário técnico de preparação de um projecto sobre Gestão Sustentável de Fogos, promovido pelo Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente (MCTA) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Manuel Lutango disse que os dados provenientes dos serviços de monitorização de queimadas e incêndios florestais referem-se ao período entre 15 de Maio e 15 de Agosto.
Segundo o responsável, o sistema de monitorização de queimadas (AFIS) instalado no centro de coordenação operacional do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros dedica-se à monitorização de queimadas e incêndios florestais, cuja teledetecção ocorre em tempo quase real, em função do intervalo de tempo de varredura dos satélites na região, que ocorre de 15 a 30 minutos.
Os dados indicam que estão incluídos nas potenciais queimadas alguns incêndios florestais de pequenas proporções, que ocorrem sobretudo em zonas distantes do alcance das forças de bombeiros e de difícil acesso para as acções de certificação 'in loco' e a sua extinção, acabando por se auto-extinguirem.
"Com vista a mitigar as insuficiências, devemos implementar e intensificar as acções locais e comunitárias, com a adopção de práticas e técnicas adequadas à caça, produção de carvão e preparação de campos agrícolas", disse Manuel Lutango.
O Serviço de Protecção Civil e Bombeiros integra o Programa Continental de Monitoramento do Meio Ambiente e Segurança em África (MESA), coordenado pela União Africana e com financiamento da União Europeia.
Por sua vez, a representante da FAO, Gherda Barreto, manifestou a disponibilidade total da organização das Nações Unidas para fazer o acompanhamento técnico aos desafios ambientais e climáticos do país, com vista ao desenvolvimento sustentável de Angola.
"A FAO é uma agência acreditada neste Fundo Verde do Clima para projectos de um tamanho médio, até de 250 milhões de dólares", disse Gherda Barreto, salientando que este fundo é o maior instrumento para o financiamento de projectos de mitigação e adaptação às alterações climáticas.
De acordo com Gherda Barreto, a FAO tem um portfólio de 15 projectos aprovados pelo Fundo Verde do Clima, dos quais três são em África, totalizando um valor de 930 milhões de dólares.
O comunicado de imprensa sublinha que os resultados desse encontro técnico, que termina na Quinta-feira, serão parte de um projecto a ser apresentado ao conselho directivo do Fundo Verde do Clima em Abril de 2022 para financiamento.
Esta iniciativa está enquadrada na Estratégia Nacional de Alterações Climáticas até 2030 e visa apoiar na gestão sustentável de fogos, que é uma prática recorrente no país, com impactos significativos na população, nos ecossistemas e na biodiversidade.
A elaboração deste projecto contribuirá para o alcance das metas de mitigação e adaptação definidas nas Contribuições Nacionalmente Determinadas de Angola, no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.
Neste sentido, o país pretende contar com o apoio do Fundo Verde do Clima, o maior fundo internacional para o financiamento de projectos de redução de emissões e adaptação às alterações climáticas.
A facilitação do evento terá o apoio da equipa técnica dos especialistas da FAO e da rede de cientistas da Iniciativa Internacional de Gestão de Fogos de Savana (ISFMI).
Em 2019, dados do satélite MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) lançado pela NASA - agência espacial norte-americana - apontava que Angola liderava a lista de países com o maior número de incêndios florestais, ultrapassando a República Democrática do Congo e o Brasil.
Na altura, o Governo de Angola reagiu admitindo a existência de queimadas que acontecem em certa época do ano, em várias regiões do país, com fim agrícola, prática "secular" que configura a preparação das terras para o cultivo, contudo "longe de assumir proporções incontroláveis".
As autoridades angolanas sublinharam na altura, que esta prática dos camponeses acontece com o aproximar da estação das chuvas e "apesar de não ser a mais aconselhável, é usual, secular".