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Gastronomia

Chef Bruno Oliveira: “Com a globalização posso dizer que a minha influência gastronómica é o mundo”

Filho de pais angolanos nasceu em Portugal, juntamente com a sua paixão pela gastronomia, que surgiu em criança, quando via a mãe cozinhar. Na sua cozinha nunca faltam as ervas aromáticas, mas dispensa produtos artificiais. É fã da gastronomia angolana, pela sua variedade, e enche-se de orgulho quando a mostra ao mundo. Foi chef no restaurante Terrakota do Epic Sana Luanda, experiência que recorda como a melhor da sua carreira, e agora novamente em terras lusas, levado pela crise que teima em assombrar o país, procura divulgar ainda mais a gastronomia angolana. Aos 33 anos, Bruno admite que vive para cozinhar, e espera poder regressar ao país “fantástico para ser chef”, que descreve como “uma terra com um potencial enorme”.

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Bruno fale-me um pouco de si... Onde nasceu e cresceu, como foi a sua infância, onde e o que estudou, que idade tem...

Nasci em Portugal em 1983, filho de pais angolanos que tiveram de vir para Portugal. Tive uma infância muito boa, sempre em contacto com Angola e com os meus familiares que vinham imensas vezes a Portugal, e sempre matávamos saudades. Estudei em Portugal, na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, onde fiz o curso de cozinha e pastelaria.

Em criança já gostava de cozinhar, ou a paixão pela gastronomia surgiu depois?

A paixão pela culinária foi surgindo de forma natural, pelo facto de ver a minha mãe e a minha madrinha a cozinhar. Isso começou a criar o tal bichinho da cozinha, e depois como eu saía da escola às 17h00, ficava em casa sozinho e foi aí que eu comecei a fazer, ou tentar fazer, algumas coisas, desastrosas, digamos… (risos)

Quais as suas principais influências gastronómicas? Que tipo de cozinha mais aprecia?

Digamos que no mundo actual as influências surgem de todo o lado, desde o Japão, onde já usei o famoso caldo dashi, usei produtos de Jerusalém, enfim… Com a globalização, posso dizer que a minha influência é mesmo o mundo!

Que tendências segue na criação dos seus pratos? Quais os alimentos que não podem faltar na sua cozinha e quais os que prescinde com facilidade?

Sem dúvida que seguimos todos as tendências marcadas por alguns dos grandes chefs mundiais. Na minha cozinha nunca pode faltar um bom azeite nem ervas aromáticas, mas também passo bem sem manteigas e produtos artificiais, como os molhos. Gosto de fazer tudo de origem, pois só assim o cliente tem o melhor.

Gosta mais dos pratos angolanos ou acha a gastronomia de outros países mais desafiante?

Adoro a comida angolana, e recorro a ela para a dar a conhecer ao mundo, como foi o caso de um ravioli de calulu de peixe, que fiz em Paris, quando fui com outros dois chefs angolanos, representar Angola no jantar da academia internacional.

Durante quatro anos foi chef executivo do Terrakota, um dos restaurantes do mítico Epic Sana Luanda. Como recorda esta experiência?

Chefiar no Epic Sana Luanda foi algo fantástico, pois tínhamos uma equipa quase sem formação, e tivemos de ensinar tudo, desde os cortes aos nomes das ervas aromáticas. Foi cansativo, mas foi sem dúvida a melhor experiência profissional que tive até hoje… Foi duro, mas faria tudo de novo.

O que leva um conceituado chef angolano fazer as malas e rumar para Portugal? A crise também chegou à gastronomia?

Infelizmente esta falta de divisas está a fazer com que muitos bons profissionais pensem em abandonar Angola, o que é uma pena, pois a nossa terra tem um potencial enorme. Esperemos que tudo isto passe rápido para regressar a Angola.

Considera Angola um bom país para estar ligado a esta profissão?

Angola é um país fantástico para ser chef pois temos um pouco de tudo. Temos fruta, temos peixe, temos carne, temos marisco, de que precisa mais um chef para ser feliz? Este país tem de tudo um pouco.

Agora que está por terras lusas, é um objectivo fazer com que a gastronomia angolana seja mais conhecida e reconhecida em Portugal?

Sim sem dúvida. Aliás, estou à procura de um espaço, onde possa dar a conhecer um pouco mais da cultura gastronómica angolana, em Portugal, e também quero fazer eventos em casa dos clientes, estilo “um chef em sua casa”, com comida africana revisitada. Quero com isto dizer, pegar em pratos angolanos e transformá-los em pratos com mais subtileza.

A distinção do restaurante com uma estrela Michelin é importante para si? Considera-a como um reconhecimento do seu trabalho?

Uma estrela Michelin é sem duvida o ponto alto de um chef, mas não vivo obcecado com isso, pois gosto de viver cada dia, e ver os meus clientes felizes. Gosto que a minha comida faça os clientes felizes, e lhe proporcione momentos de partilha.

É sem dúvida prestigiante o destaque atribuído por críticos culinários e jornalistas da área gastronómica. No entanto, em termos práticos, considera que seja um factor que as pessoas têm em consideração quando escolhem um restaurante para uma refeição? 

Sem dúvida que hoje em dia as pessoas procuram cada vez mais informação, sobre os restaurantes onde ir. Eu mesmo quando vou a um restaurante que não conheço, gosto de ter o máximo de informação sobre o restaurante, mas o que nunca faço é criticar os meus colegas de profissão, pois há dias e dias, e por vezes algo pode correr menos bem hoje, mas amanhã já sai de forma excepcional.

O que é que ainda está por fazer na carreira do Chef Bruno Oliveira? Tem planos para o futuro?

Sinto que ainda tenho tanto para fazer, desde dar formação, pois adoro ensinar, até ter o meu próprio restaurante. Enfim, são tantas coisas… Num futuro próximo, gostava de poder desenvolver a cozinha angolana na Europa, e quem sabe regressar a Angola… Só o tempo o dirá.

Por fim, cozinha para viver ou vive para cozinhar?

Eu vivo para cozinhar. Amo a minha profissão e não me vejo a trabalhar ou a fazer outra coisa que não esteja ligada à gastronomia.

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