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Bruno Fonseca: “Do meu ponto de vista a melhor exposição fotográfica será sempre a próxima”

A viver em Angola há 21 anos, Bruno Fonseca nasceu em Portugal, onde participou numa residência artística, projecto que destaca em termos de importância. Já esteve presente em exposições colectivas em Portugal, Eslováquia, Angola e Austrália, mas é em Luanda, no Camões – Centro Cultural Português, que neste momento apresenta o seu último projecto, “Out of Box”, o resultado de quatro anos de viagens e dedicação à fotografia. Para o futuro os planos são simples, não largar a câmara e ir captando os melhores ângulos das suas viagens e aventuras.

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Bruno, em primeiro lugar fale-me sobre si... Onde nasceu e cresceu, onde e o que estudou, que idade tem...

Nasci em Oliveira de Azeméis em 1972, e em Janeiro de 73 embarquei para Luanda com os meus pais e irmã. Creio que já na altura, "bebi água do Bengo", uma expressão por aqui usada para quem está por cá há muitos anos...

Voltei a Portugal após o 25 de Abril, e a família fixou-se em Sever do Vouga, local de origem do meu pai. Aqui cresci e estudei até ao 9.º ano, tendo depois estudado em Lisboa, Viseu, Albergaria-a-Velha e ter terminado a minha vida académica em Sever do Vouga, para a conclusão do 12.º ano. 

Após a perda do meu pai, em 2003, continuei um ano a trabalhar com os sócios dele, mas parei um ano sabático, em Luanda, a cismar e a projectar os estudos em fotografia... Em Setembro de 2005 iniciei em Lisboa o Curso Profissional de Fotografia, no Instituto Português de Fotografia, optando por me mudar para as instalações no Porto, para concluir o segundo ano.

De onde veio o gosto pela fotografia? É uma paixão?

Já vem de longe e sem dúvida que é uma paixão. 

Era um sonho de criança ser fotógrafo?

Não de criança, mas sim já da adolescência...

Quais as suas influências? Tem algum artista ou fotógrafo que o inspire?

Não tenho influências directas de nenhum fotógrafo em concreto. Sempre evitei estudar muito o artista X ou Y, de propósito para não ter tendência K ou Z... No dia a dia se repararmos bem, já somos influenciados a maior parte das vezes inconscientemente, e assim também não corro tanto o risco de me apontarem como cópia ou estilo de fulano, sem qualquer desprimor por tantos nomes sagrados da fotografia.

Que tipo de fotografia mais gosta de fazer?

Fotografia! Dentro da fotografia, podemos ter várias vertentes, e sinto-me bastante confortável em algumas delas. No fotojornalismo, desde a reportagem no terreno ao desporto e aos eventos, na fotografia documental em qualquer projecto digno de ser documentado, de preferência projectos de longa duração. 

Como é ser fotógrafo em Angola?

Basicamente é o mesmo que ser fotografo nos outros países. É uma profissão tão digna como tantas outras. No meu caso específico, sendo freelancer, torna se um pouco mais complicado na sobrevivência, pois no início do mês nunca se sabe bem com o que se pode contar...

Quais os locais favoritos (em Angola e no estrangeiro) que tem para fotografar? Onde é que ainda não esteve com a sua câmara e gostaria de estar?

Em Angola, na desértica província do Namibe, pela beleza cénica e pelo silêncio inspirador... No estrangeiro, bem, no estrangeiro o meu local favorito é sempre o próximo local ou país a visitar. A minha maior adição é ver pela primeira vez um local novo, cheirá-lo pela primeira vez, senti-lo pela primeira vez.

Ainda não estive em muitos locais que adorava estar, e seria uma lista bastante extensa, por isso reduzo a minha ambição para completar mais 40 países, para juntar aos 60 já visitados, e assim completar o "meu meio mundo"...

Já conta com um grande repertório de trabalhos publicados, exposições e fotografias expostas tanto em Angola como em Portugal, na Eslováquia e na Austrália. Qual foi a sua melhor exposição?

Em termos de importância, sem dúvida que marcar presença na última Bienal de Cerveira foi a mais relevante, apesar de ser colectiva. Esta exposição no Camões reveste-se também de extrema importância, por ser individual, mas acima de tudo por ser o corolário de alguns anos de dedicação ao tema. Mas do meu ponto de vista a melhor exposição será sempre a seguinte, a próxima. 

Tem algum trabalho que tenha feito que seja o seu favorito? Porquê?

Todos os trabalhos ou projectos têm o mesmo sentimento e carinho, não havendo filhos e enteados, pois foram todos fruto da mesma linha de pensamento, daí não consiga dizer qual dos filhos gosto mais. 

Participou numa residência artística da Fundação Bienal de Cerveira, em Portugal, onde desenvolveu um trabalho documental de memória sobre o salto, um projecto na área da fotografia de nome “Fronteira”. Pode falar-me um pouco sobre este projecto?

A residência artística em Cerveira foi em Outubro de 2014, inserido num colectivo de fotógrafos, onde o tema era a fronteira. Eu por minha vez, dirigi as minhas atenções para o fenómeno de emigração ilegal nas décadas de 60 e 70, a que se deu o nome de "Salto". Dar o salto era a expressão usada para quem emigrava ilegalmente pelas fronteiras terrestres. Este projecto, uma vez submetido a concurso, foi escolhido para estar exposto na última Bienal.

Actualmente o seu projecto sobre os contentores marítimos, “Out of Box”, está em exposição no Camões. Como está a ser adesão ao seu trabalho? O feedback que está a receber superou as suas expectativas?

A “Out of Box” no Camões foi produzida pelo Jorge António, realizador luso que vive em Angola há mais de duas décadas, sendo o director de produção da Companhia de Dança Contemporânea de Luanda, que vai estrear brevemente o seu mais recente filme, “A Ilha dos Cães”, rodado em S. Tomé e Príncipe, Angola e Portugal.

A inauguração foi um sucesso, e o feedback tem estado nas expectativas que previa, pois muitos dos presentes já sabiam deste meu projecto, que já dura há quatro anos, e já me tinham transmitido algumas opiniões.

Este trabalho surgiu depois de um desafio da agência 4see, que me representa em Portugal, para que os seus representados elaborassem um trabalho relacionado com o mar, para assinalar o seu 10.º aniversário... Por falta de verbas, o projecto global não avançou, mas eu já estava lançado e não mais parei... Os objectivos eram o de poder mostrar a metamorfose dos contentores marítimos nas suas mais variadas formas e fins, em diferentes culturas e locais, aproveitando sempre o factor profissional das viagens.

Em que outros projectos já esteve envolvido no nosso país que destaca particularmente? E no estrangeiro?

Projectos na área documental, até ao momento só tenho concluídos aqueles já referenciados. Tenho outros projectos em fase de avaliação, e alguns em desenvolvimento. Alguns destes projectos e ideias são desenvolvidos em vários países à semelhança do “Out of Box”.

Que desafios já enfrentou enquanto fotógrafo?

Todos os dias temos novos desafios enquanto seres humanos... O fotógrafo não foge à regra! Para mim, qualquer uma das minhas grandes viagens foram desafios, mas o mais prazeroso foi uma viagem a solo, desde as origens, Sever do Vouga, ao Cabo Norte, o ponto mais a norte da Europa, na Noruega, já no círculo polar norte. 

Já foi distinguido com algum prémio fotográfico? Qual a sua opinião sobre os prémios confinados à fotografia?

No início de carreira, 2007/2008 tive uma menção honrosa num concurso da Câmara Municipal de Aveiro, o Jovem Criador. Este ano recebi três menções honrosas no MIFA - Moscow International Foto Awards. 

Não sou muito de concursos, e anualmente devo enviar para três ou quatro no máximo... Mas vejo que há trabalhos pensados exclusivamente para concursos. Não é esse o meu "leitmotiv".

Há algum prémio que gostaria de ver ser-lhe atribuído?

Claro que sim, sem falsas modéstias e no campo do fotojornalismo, qualquer prémio no World Press Photo é um marco de viragem para qualquer profissional da área! Mas para estes prémios, fora um acaso ou outro de uma fotografia de sorte, são todos fruto de trabalhos excepcionais, e como já referi anteriormente, pensado para X ou Y concurso. Até a constituição dos membros do júri é alvo de estudo, para ver que estilo de fotografia cai melhor neste ou naquele júri...

Por fim, quais os seus planos para o futuro? Em que projectos está ou vai estar envolvido nos próximos tempos? 

Os meus planos para o futuro, são de continuar a fotografar, continuar as minhas viagens e aventuras, para um dia com tempo, conseguir reunir isso numa publicação com fotografias e confidências das viagens.

Esta exposição “Out of Box” foi pensada para viajar, à semelhança do actor principal, o contentor marítimo. Se me permitir viajar com ela, estarei no caminho certo.

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