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Turismo é aposta em Angola, mas caminho a percorrer ainda é longo

Aos 23 anos Manuel Domingos é o guia turístico mais velho das quedas de Calandula, em Malanje, uma das sete maravilhas de Angola, mas nunca se formou para a função. Aprendeu a brincar o que explicar aos turistas e já faz equipa com outros três jovens da terra.

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“Amo o meu trabalho. É a profissão que eu escolhi, acho que Deus me designou para fazer este trabalho”. O relato é feito após uma descida vertiginosa, a pé, por um estreito caminho que leva mais de 20 minutos a percorrer até às águas do rio Lucala, o mais importante afluente do "grande" Kwanza.

Para trás fica uma descida de 105 metros, ou seja, a altura das quedas de Calandula, as segundas maiores de África, estendendo-se por mais de 400 metros, como logo explica o guia Manuel Domingos, com uma paisagem arrebatadora de fundo.

“São sobretudo portugueses, brasileiros e franceses que vêm cá. Num domingo bom conseguimos ter seis grupos para levar a ver as quedas”, conta, antes de entrar nas explicações sobre as lendas que envolvem o local, desde o início da ocupação colonial portuguesa.

Os quatro – além de Manuel também Tiago, Joãozinho e Chiquito –, integram os 192.000 angolanos que trabalham em turismo no país, um sector que já representa mais de 530 mil visitas anuais, mas também uma das lacunas do sector: a falta de formação profissional. Lidam bem com os turistas e no fim da visita guiada, que pode levar meio-dia, não há preço definido. Cada visitante paga o que quer: “O nosso negócio é assim”, explica.

Num sector que tem como meta atingir até 2020 um milhão de trabalhadores e 4,7 milhões de turistas (acumulado), e que já conta com 180 unidades hoteleiras de várias dimensões, totalizando cerca de 8000 camas, o director-geral do Instituto de Fomento Turístico (Infotur) admite que a falta de quadros especializados é uma das “lacunas”. “Precisamos de investir seriamente na formação profissional”, confessa Eugénio Clemente.

Outro dos problemas prende-se com a falta de dinamização do turismo interno, também devido aos custos para as famílias, com o responsável a recordar que com a oferta actual já há hotéis sem clientes em várias províncias e até mesmo na capital.

“Há necessidade de entrarem aqui as operações das agências de viagens para que se motive, por via dos pacotes turísticos, a cobertura do alojamento nesses períodos mortos que os hotéis estão a registar”, reconhece o director-geral do Infotur angolano, em entrevista à Lusa.

Com segmentos como o ecoturismo e cruzeiros de luxo, estes com paragens nos portos de Luanda, Lobito e Namibe, em crescimento, e com o clima, paisagem, parques naturais, cultura, gastronomia e a abundante fauna e flora como atractivos, o Governo angolano vê no Turismo uma das formas de diversificação da economia, dependente das exportações do petróleo.

A estimativa é que o sector represente, contando com o turismo de negócios, cerca de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos cinco anos. Uma meta que a dificuldade na obtenção de vistos de turismo, sobretudo face à burocracia envolvente, pode comprometer.

“É necessário que a gente saiba quem entrou, onde é que vai estar hospedado, por quanto tempo, quando é que vai sair. Fazer entrar um cidadão, que depois não há um controlo das autoridades, nem de quem o convidou, quando e se já saiu, isso realmente dificulta”, aponta Eugénio Clemente.

A solução, afirma, passa pela organização das agências de viagens para o tratamento destes pedidos: “Parece ser um problema, nas não é um problema. É apenas uma situação que carece de um princípio básico na estruturação, para que as coisas funcionem”.

Com temperaturas sempre altas face aos padrões europeus, as praias representam um dos motivos de interesse de Angola, sobretudo a sul, em províncias como Benguela ou o Namibe.

Em Luanda, a referência maior é a ‘ilha’ do Mussulo – que na prática é um banco de areia ligado a terra, mas praticamente inacessível de carro -, onde há ‘resorts’ de luxo, restaurantes, condomínios e, claro, praias longe do reboliço da cidade.

“As pessoas procuram o contacto com a praia, sol e relaxar um pouco face ao seu dia-a-dia, durante a semana”, conta à Lusa a gerente do resort “Tao Beach”, Marlene Ferreira, que também se queixa de falta de profissionais especializados para receber os cerca de 100 visitantes diários.

Trata-se de um dos três ‘resorts’ do Mussulo, com 12 bungalows e restaurante, procurados sobretudo por trabalhadores expatriados, como holandeses, portugueses e brasileiros, numa viagem de sete de minutos e 1000 kwanzas a partir da costa.

Após a independência, recorda Manuel Silva, de 56 anos e neto de naturais do Mussulo, aquela ‘ilha’, polvilhada por empreendimentos voltados à costa e praticamente deserta nas praias da contracosta, passou de uma zona de pescadores a ponto turístico. “Antigamente só havia salga. Agora todo o mundo vem aqui para fazer piquenique e construção. É mais estrangeiro, nacionais também, mas apenas para fazer praia”, conta à Lusa.

Apesar das dificuldades, com centenas de quilómetros de estradas em más condições de circulação ou a burocracia presente em tudo, Angola pretende atingir as 10.000 camas. Só em Lunda Sul, as unidades em construção representam cerca de mil novas camas, o que para director-geral do Infotur comprova a oportunidade que o sector representa.

“Temos um país imenso para descobrir e por isso necessitamos de uma grande oferta de quartos”, conclui Eugénio Clemente.

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