Érica Tavares falava à imprensa à margem da conferência internacional sobre ambiente, com o tema “O Planeta em Chamas: Direitos em Extinção”, promovida pelo Mosaiko - Instituto para a Cidadania e a Fundação Fé e Cooperação (FEC).
“A fome está a aumentar, a pobreza está a aumentar e as florestas são o recurso mais rápido e mais próximo que elas têm para conseguirem sobreviver, mas também há muito corte de madeira ilegal, que sai das florestas e não entra [recursos financeiros] para as pessoas. Noutros países o comércio de madeira, quando feito de forma legal, impulsiona a economia”, disse.
De 2001 a 2023, Angola perdeu cerca de quatro milhões de hectares de florestas, em contrapartida a florestação não acontece na mesma proporção, avançou Érica Tavares quando apresentava o tema "Desflorestação - Microssistema Angolano Mancha - Ambiental as Nossas Acções Consequências Internas e Externas.
"E a cada ano a quantidade de florestas que estamos a desflorestar é cada vez maior, a população em Angola está a crescer, as necessidades estão a crescer, só fazemos cada vez mais e mais pressão dessas florestas", disse a conselheira da EcoAngola.
A preocupação principal para Angola está na parte norte, que envolve a floresta na região fronteiriça com o Congo, e a região da floresta do Miombo, uma das que carece mais atenção, que integra as províncias do Moxico, Bié e Cuando Cubango.
"É uma das florestas com que temos sim que nos preocupar muito, porque, infelizmente, a desflorestação está a acontecer, a informação não está a chegar às pessoas e quando despertarmos vai ser tarde demais", salientou.
A ambientalista defendeu mais monitorização e aplicação das leis que existem, mas também a sua melhoria, porque das muitas empresas em relação às quais são detectadas infracções “poucas são responsabilizadas e as que são, as cauções são muito baixas para o impacto que têm” as suas actividades, salientou.
Érica Tavares disse que está em curso um estudo para avaliar a dimensão da desflorestação em Angola, cuja informação actual é baseada apenas em imagens de satélite.
“Tenho conhecimento de alguns estudos que estão a acontecer, sou parte de uma organização que está a fazer um inventário florestal da Bacia do Cubango, e vamos publicar os resultados em Novembro, com uma informação mais concreta, em colaboração com o Ministério da Agricultura e Florestas”, referiu.
Érica Tavares sublinhou a importância desses estudos - poucos ainda - sem os quais não é possível essa monitorização, controlo e gestão do problema.
Também o director-geral do Mosaiko – Instituto para a cidadania, Júlio Candeeiro, se referiu ao problema da devastação grave das florestas, devido à extracção de minérios como diamantes e ferro, e ao impacto dessa actividade humana e comercial nas comunidades.
Júlio Candeeiro disse que a conferência visa contribuir para, estando identificado o problema, analisar as responsabilidades de cada actor, para que as comunidades tenham os seus direitos respeitados.
“Porque o que acontece em vários projectos de extracção em Angola e outras partes do mundo é que os contratos de concessões são elaborados, aprovados, muito distante das comunidades, sem informação, sem consulta e nem sequer partilha real dos benefícios da extracção para as comunidades mais impactada por esta actividade”, afirmou.
O director-geral do Mosaiko lamentou que a prática extrativa em Angola seja “opressora, não dialoga” e não está preocupada com a sustentabilidade ambiental, mas sim em “ganhar dinheiro”.
“Infelizmente, já começamos a pagar o preço desta economia irresponsável e começa sempre pelos mais pobres, os que têm menos alternativas para lidar com o calor, para produzir de forma alternativa, porque a nossa acção sobre o ambiente é já nociva para todos eles”, afirmou.