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Valdemar Tchipenhe em Angola para liderar equipa de instalação de laboratórios para testes à covid-19

Valdemar Tchipenhe, um jovem angolano de 23 anos, é o líder de uma equipa de cientistas da empresa chinesa BGI Genomics, que está a instalar laboratórios para testes à covid-19 em Angola. “É uma honra liderar a instalação de laboratórios de covid-19 no meu país, terra que me viu nascer”, afirma o jovem, natural do Sumbe, no Cuanza Sul.

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O jovem começou a lidar com o novo coronavírus quando a China atingiu o pico da doença. "Fui convidado a fazer parte do leque de trabalhadores específicos em análises de amostras do vírus Sars-Cov-2. Lembro-me que a empresa chegava a receber cerca de cinco mil amostras por dia e lá trabalhei durante um mês, 12 horas por dia, em função do fluxo de trabalho", contou, em entrevista ao Jornal de Angola.

Não tardaram em chegar pedidos de ajuda de países africanos. A equipa viajou até ao Gabão, Togo e Benim para começar a instalar laboratórios de testagem.

"Quando estava no Togo a trabalhar, no início de Junho, a minha história foi publicada na imprensa chinesa. Quem teve conhecimento do facto foi o embaixador de Angola na China, que posteriormente me contactou para felicitar e saber como estava", revela.

Não demorou muito até aparecerem pedidos de entrevistas para a imprensa angolana, o que fez chegar o seu nome até ao Ministério da Saúde: "De seguida recebi uma ligação da ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, a manifestar interesse pelo meu trajecto de vida, assim como do projecto que desenvolvemos em alguns países africanos no âmbito da luta contra o novo coronavírus. Depois dos contactos com os responsáveis máximos da minha empresa, firmou-se a parceria para instalar o mesmo projecto de laboratórios cá no país, onde estamos até à data".

"É uma honra liderar a instalação de laboratórios de Covid-19 no meu país, terra que me viu nascer e onde vive a minha família e os meus amigos. É diferente prestar o mesmo serviço no Gabão, Togo e na China. É uma grande responsabilidade, tenho estado sob stress constantemente, mas vai correr tudo bem", admitiu.

De acordo com o jovem, o Ministério da Saúde adquiriu cinco laboratórios, dos quais dois serão para Luanda e os restantes serão montados no Uíje e na Lunda Norte.

"Pelo menos um dos laboratórios permanentes em Luanda já está concluído e provavelmente ainda esta semana será inaugurado, restando apenas a montagem dos equipamentos e o processo de formação dirigido aos quadros locais", indicou ao Jornal de Angola, acrescentando que a equipa que está em Angola é composta por nove pessoas, mas apenas Valdemar Tchipenhe é angolano.

O jovem revelou também que desde que chegou a Angola que ainda não conseguiu visitar a sua família. "Devido ao trabalho que faço, a minha empresa não permite que tenha contacto nesta fase, de modo a evitar o contágio do vírus. E mesmo depois de concluir o trabalho não sei se terei oportunidade de vê-los pessoalmente. A alternativa tem sido o contacto por telefone e pelas redes sociais", explicou.

Afirmado que esta doença trouxe "muitas tristezas para o mundo", o jovem admitiu que está a aprender bastante com esta experiência e que essa aprendizagem lhe ficará para a vida. "Hoje tenho a noção do que é estar na linha da frente de uma pandemia, como liderar uma equipa e, acima de tudo, o reconhecimento das pessoas", afirmou.

Valdemar Tchipenhe mudou-se para a China em 2014 para prosseguir estudos: "Tudo aconteceu em finais de 2013, depois de ter terminado o ensino secundário em Ciências Físicas e Biológicas, na Escola do II Ciclo (Puniv) do Sumbe. O meu nome constou do quadro de honra da instituição, como um dos melhores alunos, e, como recompensa, fui agraciado com uma bolsa de estudo do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo, para frequentar o Ensino Superior na República Popular da China, onde cheguei em 2014, então com 17 anos".

O jovem admitiu que se tivesse ficado em Angola talvez não conseguisse alcançar o mesmo sucesso académico e profissional. "Viajar para a China foi a melhor decisão que tomei", disse, realçando que conseguiu criar conexões com várias pessoas e línguas.

A fase de adaptação não foi fácil, revelou, admitindo que demorou algum tempo a conseguir ambientar-se ao clima, alimentação, cultura e estrutura de ensino do país asiático.

A língua foi um dos grandes entraves, completou. "Estudei, durante um ano, naTongji University, localizada em Shanghai, para aprender a língua chinesa, o mandarim. Confesso que, seis anos depois de ter chegado à China, ainda não falo fluentemente mandarim. É uma língua muito complexa, principalmente a escrita e a pronúncia. Depois de concluir a formação em língua, fui enviado para a Zhejiang Normal University, na cidade de Jinhua, onde fiz a licenciatura em Biotecnologia, durante quatro anos", contou.

Quanto ao regresso ao seu país, Valdemar admite que essa é uma possibilidade que está em cima da mesa. Contudo, para já ficará em 'stand-by', já que o jovem pretende trabalhar durante mais dois anos na empresa onde está actualmente "para ganhar mais experiência" e quando acabar contrato pretende "viajar para o Japão ou Inglaterra para fazer mestrado e doutoramento".

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