"Muitos países africanos exportam crude de alta qualidade para a Europa, mas recebem em troca combustíveis tóxicos e de baixa qualidade", lê-se no relatório da ONG Public Eye “How Swiss Traders Flood Africa with Toxic Fuels” (Como os Vendedores Inundam África com Combustíveis Tóxicos).
A conclusão resulta da análise de combustível comprado nas bombas de gasolina em oito países africanos (Angola, Gana, República do Congo, Costa do Marfim, Mali, Senegal, Benim e Zâmbia) e baseia-se nos níveis de enxofre encontrados, que excedem os padrões europeus, e na existência de outras substâncias, como benzina e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, elementos proibidos na Europa.
O relatório explica que os combustíveis com alto nível de enxofre foram encontrados principalmente nas bombas operadas pelas companhias suíças que se aproveitam da fraca qualidade da legislação e da regulamentação deficiente.
O documento consultado Sábado pela Lusa, no que diz respeito a Angola, aborda as ligações entre os grandes intermediários ou comerciantes (traders, no original em inglês] suíços Vitol e Trafigura, que importam o crude, conduzem a transformação em combustível - refinação - e depois vendem-no a vários países africanos.
"A antiga colónia portuguesa [Angola] é particularmente interessante pela magnitude das actividades da Trafigura lá", diz o documento, pormenorizando que o consultor britânico da indústria petrolífera CITAC afirmou que "a maioria do petróleo angolano é importado pela Trafigura" e que, quando instado a colocar um número, disse: "Não acreditamos que mais ninguém forneça petróleo ao país".
De acordo com o relatório da Public Eye, a Trafigura é uma holding em que o petróleo representa 67 por cento do lucro, em 2015, tendo activos físicos de quase 40 mil milhões de dólares, "incluindo minas, navios, tanques de armazenagem, bombas de gasolina e oleodutos".