Hoji Fortuna, 49 anos, está actualmente em ensaios para uma telenovela da TVI, mas neste mês será possível vê-lo no cinema no filme de acção “Duchess Implacável”, do realizador britânico Neil Marshall, que se estreia no dia 29.
Em entrevista à agência Lusa a propósito deste filme, Hoji Fortuna explicou que “Duchess Implacável” já foi filmado no verão de 2022 em Tenerife, Espanha, e que chegou ao projecto por via de uma rotina de participação em ‘castings’ e contactos com profissionais que escolhem os elencos.
“É um filme cheio de acção com bastantes cenas de lutas e perseguição, e tem uma componente dramática e romântica bastante interessante. Deu-me um prazer enorme de fazer e de trabalhar com o Neil Marshall”, afirmou Hoji Fortuna, que interpreta Billy Baraka, personagem de um grupo que se movimenta no submundo do tráfico de diamantes.
Aquela rotina de ‘castings’ faz parte do trabalho habitual de quem vive da representação e de quem tem capacidade para ter um agente. Para Hoji Fortuna foi uma das formas de chegar a vários mercados: “Tenho agente em Portugal, em Espanha, em Inglaterra e no Brasil”.
Hoji Fortuna teve um percurso menos convencional na representação, área à qual chegou pouco antes de completar 30 anos, quando já tinha feito um curso em Administração Local, em Coimbra, e passado por Direito no Porto.
“Eu descobri a representação bastante tarde, tinha 28 anos quando comecei a dar os primeiros passos e não passei pela trajectória normal, que é frequentar os cursos de carreira, nomeadamente do conservatório. Fui fazendo cursos à medida que a carreira ia acontecendo”, lembrou.
Essa carreira começou por figuração e pequenos papéis em cinema, teatro e televisão, sobretudo em programas de comédia como “Os Malucos do Riso”, em Portugal, mas Hoji Fortuna recorda que as possibilidades no mercado português “eram limitadas”.
Neste início de percurso há ainda a participação num ‘reality show’ da estação de televisão SIC, “Bar da TV” (2001), que venceu e que ainda hoje considera que “não foi uma coisa boa” para as suas ambições de actor, “no sentido daquilo que as pessoas no mercado português pensavam”.
“[Estas coisas] não são bem vistas pelo resto do mundo artístico, da representação, do cinema. É um bocadinho como paraquedistas ou oportunistas. (…) O programa teve um aspecto positivo, porque as pessoas tiveram uma perspectiva mais aberta sobre as pessoas de origem africana. Era bastante mais limitada e participar naquele programa trouxe aquela vantagem”, considerou.
Sobre Nova Iorque, onde viveu seis anos, Hoji Fortuna concorda que é “um lugar muito prolífico, há muita gente a criar coisas, aos mais variados níveis”.
“Quando lá estive, fiz teatro na ‘off off Broadway’, as salas são mais íntimas. A maior parte dos actores a trabalharem no cinema começam nessas categorias. Foi um processo pelo qual eu passei, a trabalhar aqui e acolá, e vai-se conhecendo directores de ‘casting’, aperfeiçoando as suas ferramentas de actores. É o que tem vindo a acontecer comigo. É um processo que não termina”, afirmou.
O currículo profissional soma participações em séries e filmes em papéis secundários, como “Pan Am” (2011-2012), “Tribes of Europa” (2021) e “Moonhaven” (2022). Entrou ainda em “Banzo” (2024), filme de Margarida Cardoso, e “MMA – Meu Melhor Amigo”, produção brasileira de José Alvarenga Jr., que está em pós-produção. E está em ensaios para a novela “Huíla”.
Hoji Fortuna recorda ainda a breve experiência de figuração numa das temporadas da série “Guerra dos Tronos”, “uma experiência interessante, não pelas melhores razões”, com rodagem na Croácia.
“Ter feito ‘Game of Thrones’ na qualidade de figurante foi um passo atrás naquilo que queria para a minha trajectória. É uma produção enorme, com centenas de ‘extras’ [figuração] e a gestão é complicada, as pessoas são tratadas quase como se fossem gado, e para quem estava acostumado a trabalhar a um nível diferente, não foi muito agradável”, lamentou.
Hoji Fortuna, que nasceu em Angola em 1974 e se mudou para Portugal com 20 anos, já cumpriu também uma primeira experiência na realização, com a curta-metragem “A Lisbon Affair” (2022).
“É um projecto de paixão que também tem alguma coisa a ver com a forma como as pessoas negras são vistas no espaço europeu. É uma história de amor e raramente vemos isso numa narrativa feita em Portugal”, com protagonistas negros, disse.
Aliás, sobre Portugal diz que se sente “um bocadinho como um ‘outsider’ [forasteiro,estranho]”: “Não faço as conexões, não estou relacionado com muita gente cá dentro, conheço alguns actores, tenho conhecido alguns realizadores. É um processo. Somos um país pequeno, não nos podemos comparar com o mercado brasileiro ou outro da Europa".
Hoji Fortuna constata que "existem imensos actores em Portugal e que é um meio de competição bastante árduo", mas ainda não é pleno em diversidade.
“Acho que há mais pessoas de origem africana a interpretar coisas na nossa narrativa audiovisual, mas eu acho que os personagens ainda podem ser mais capitalizados. Poderíamos ter pessoas negras em posições de maior protagonismo do que aquele que normalmente ainda lhes vem sendo reservada. Em Portugal a dado momento chegaremos lá”, disse.