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Minfin nomeia filha de João Lourenço para administração da Bodiva. Críticas ao PR fazem-se ouvir

Cristina Giovanna Dias Lourenço, filha do Presidente João Lourenço, terá sido nomeada em Março pela ministra das Finanças para o cargo de administradora executiva da Bolsa de Valores de Angola (Bodiva).

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A notícia, avançada pelo português Jornal de Negócios, poderá fragilizar a actual cruzada de luta contra a corrupção do Presidente da República. As reações não se fizeram esperar.

O presidente da Associação Angolana Mãos Livres, Salvador Freire, e o politólogo angolano Olívio Nkilumbo consideraram que a nomeação da filha do Presidente da República para um cargo público "fragiliza as acções de combate à corrupção e nepotismo".

Para o líder da Mãos Livres, organização não-governamental (ONG) de promoção dos direitos humanos, a nomeação de Cristina Dias Lourenço para o cargo de administradora da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (Bodiva) configura um acto de nepotismo.

"Isto configura-se como nepotismo, portanto não pode de forma nenhuma a filha do Presidente da República ocupar responsabilidade que hoje ocupa, isto para além de nepotismo é tráfico de influência, isso faz com que venha beliscando a boa governação, a transparência", afirmou Salvador Freire, em declarações à Lusa.

No despacho n.º2260/20, de 5 de Maio, o Ministério das Finanças confirmou a dispensa de Cristina Lourenço, onde é técnica superior de 2.ª classe, para dirigir os departamentos de Finanças e Património e de Comunicação e Intercâmbio da Bolsa.

Segundo o advogado Salvador Freire, a nomeação da filha do Presidente para o cargo afecta os princípios da boa governação e transparência que o Governo e a sociedade apregoam diariamente.

"Portanto, isso não é bom para a governação, não é bom para a sociedade e são exemplos que devem ser banidos", disse.

O combate à corrupção, à bajulação e ao nepotismo constituem os eixos de governação de João Lourenço, no poder há três anos.

De acordo com o responsável da ONG, que não coloca em causa as competências técnicas e profissionais da filha do chefe de Estado, a medida fragiliza o processo em curso no país.

"Se estamos a combater o nepotismo, o tráfico de influência e a corrupção, não pode haver exemplos provenientes de uma estrutura da governação que demonstre efetivamente que filhos de determinados dirigentes do país ocupem cargos sem fazer um concurso", notou. "É preciso que os cidadãos concorram aos cargos em igualdade", vincou.

A opinião de Freire converge com a do politólogo Olívio Nkilumbo, afirmando que a nomeação de pessoas próximas para determinados cargos políticos "é uma prática muito comum" no seio do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola).

"E é um mal que ele [Presidente angolano] combateu num passado, não muito distante, onde fez críticas duras a nível do seu partido de algumas acções feitas pelo antigo Presidente em nomear filhos ou pessoas com grande proximidade da família", disse à Lusa.

Para este analista político, a nomeação de Cristina Dias Lourenço para a Bodiva, "periga alguns aspectos relacionados com outros actores que mais ou menos competentes poderiam também estar em pé de igualdade para concorrer para esses cargos".

Apesar de não ter sido nomeada pelo Presidente da República, mas pela ministra das Finanças, "que entendeu que a jovem tem qualidades técnicas e profissionais de exercer esse cargo", observa, o "problema reside no facto de a pessoa ser filha de João Lourenço".

Segundo o politólogo, a filha de João Lourenço "estará por esta via a controlar" o processo de privatização das empresas e activos públicos por via da Bodiva.

"Se por esta via se quer controlar o processo de privatização é porque se pretende ter pessoas próximas ao Presidente, logo podemos estar aqui diante de uma nova acumulação primitiva de capitais onde pessoas próximas ao Presidente vão controlar processos complexos e estratégicos para os próximos tempos", concluiu.

Anteriormente, Cristina Giovanna Dias Lourenço era directora-geral adjunta da Unidade Técnica de Acompanhamento de Projectos de Financiamento Externo do Ministério das Finanças. A filha de João Lourenço tinha já estado na Bodiva em 2014, exercendo à data funções de analista de mercados.

Cristina Lourenço é licenciada em Gestão pela London School of Economics and Political Sciences, Londres, em 2012, tendo concluído o Mestrado em Gestão de Investimentos, pela Pace University, Lubin School of Business, Nova Iorque.

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