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Luaty Beirão diz que má governação e prepotência das autoridades originaram tumultos em Luanda

O activista Luaty Beirão disse que a “má governação e prepotência” das autoridades originaram os tumultos registados em Luanda, considerando que o Governo conduziu o país para um estado de insustentabilidade e "ignorou o desgaste popular".

: Lusa
Lusa  

"Na há magia, as pessoas não acordaram num dia e tornaram-se todas criminosas, isso é uma explosão e as causas podem resumir-se a isso: má governação, insistência na prepotência e ignorar os sinais evidentes de desgaste por parte do povo", disse esta Quarta-feira Luaty Beirão em entrevista à Lusa.

Segundo o activista, as causas dos actos de protesto registados nos últimos dois dias em Luanda, na sequência da greve dos taxistas, derivam do estado de insustentabilidade a que o país foi conduzido, referindo que a sociedade civil há anos que tenta advertir as autoridades.

"[As causas dos protestos] são claras. Nós andamos, enquanto sociedade civil, há muitos anos a tentar advertir o poder, que se fez poder pela força, que não conhece outra linguagem sem ser a da brutalidade e da força, que estariam a levar e a conduzir o país para um estado de insustentabilidade", apontou.

Luanda registou esta Quarta-feira relativa acalmia, após ter vivido, na Segunda e na Terça-feira, episódios de violência, tumultos, saques em armazéns e estabelecimentos comerciais e destruição de bens públicos e privados, na sequência da greve convocada por taxistas, que cumpriu o seu terceiro e último dia.

Para Luaty Beirão, os acontecimentos de Luanda, que se reflectiram igualmente em algumas províncias do interior de Angola, são sintomáticos de que "o patrão" – numa alusão às recentes declarações do Presidente, João Lourenço, segundo as quais "o meu patrão é o povo" – está chateado.

"O patrão [o povo] está chateado e o patrão andou a pedir durante anos por atenção e não lhe foi dada, agora quando a tampa rebenta anda todo o mundo a apontar dedo e a pôr responsabilidades na parte mais fraca, então era um desastre anunciado", disse.

Considerou, por outro lado, que nada do que está a acontecer "deveria surpreender ou chocar enormemente as pessoas que se preocupam minimamente com o país" e defendeu que a ocasião deveria ser aproveitada pelas autoridades para a promoção de um diálogo com a sociedade.

"Agora, o que deveria estar a acontecer era uma certa humildade, o que também não existe lá em cima, de reconhecer que deram um ou vários passos em falso e conseguir descer do pedestal e promover um diálogo, abrir-se às pessoas que estão a demonstrar esta fúria", declarou.

Com um balanço provisório de 22 mortos, 197 feridos e mais de 1200 detidos, em dois dias de tumultos na capital, durante a paralisação dos taxistas, Luaty criticou igualmente a actuação da polícia que, disse, também "participaram do saque achando que estavam longe das câmaras".

"As consequências nós conhecemos e é o que estamos a ver agora, não havendo outra linguagem que se conheça desde sempre por parte de quem está no poder. Enviam os outros desgraçados que também participam no saque, quando acham que estão longe das câmaras", afirmou aludindo a efectivos da polícia que terão participado nos actos de pilhagens em armazéns, segundo imagens partilhadas nas redes sociais.

O activista e membro de direcção do Movimento Cívico Mudei, organização não-governamental angolana, reprovou ainda a acção de "aproveitadores", na vandalização de estabelecimentos e instituições, apelando, no entanto, à reflexão sobre as razões do saque de comida.

"Obviamente que estamos a ver lojas de electrodomésticos e outras coisas feita por aproveitadores, mas o grosso das pessoas está a saquear lojas de comida e isso deve preocupar toda a sociedade para entender o que está na essência desta situação", concluiu Luaty Beirão.

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