"É urgente o executivo não continuar a fazer vista grossa ao sentimento de revolta, que cresce a cada dia nos corações dos angolanos, de tanta indigência", afirmou o vice-presidente do grupo parlamentar da UNITA, Faustino Mumbika.
O parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que apresentava a declaração política do seu partido na reunião plenária, considerou que os angolanos merecem dignidade lamentando que os angolanos, passados quase 50 anos de independência, sejam ainda "vítimas" da falta de saneamento, de boas estradas, de bons serviços e saúde e de educação, sobretudo, de felicidade na sua própria terra.
Para sustentar a sua afirmação, Mumbika referiu que Angola conta actualmente com mais de 17 milhões de pobres, 13 milhões de pessoas a passar fome, sete milhões no desemprego e mais de quatro milhões de crianças fora do sistema de ensino.
O político da UNITA disse que os cidadãos questionam por que razão o Governo continua a surpreender pela negativa, nomeadamente com o aumento dos preços da água e electricidade, dos combustíveis, com a suspensão da ajuda médica a pacientes para tratamento no exterior, nomeadamente em Portugal, e a privilegiar contratação simplificada como regra.
"Afinal, corrigir o que está mal é assim?", questionou, realçando que passados 23 anos após a guerra civil e mesmo com a aprovação da Constituição e de leis de amnistia, o país "continua a testemunhar agressões físicas e assassinatos por razões políticas".
O mais alto magistrado da nação "nada faz e nada diz e os seus auxiliares assumem a narrativa política cuja tese se sustenta no ajuste de contas por acontecimentos do passado de guerra, então o Estado falhou na sua missão essencial", atirou.
O vice-presidente do grupo parlamentar da UNITA disse que Angola não tem instituições republicanas e nem servidores com missão de proteger o Estado democrático e de direito e os seus cidadãos, lamentando as agressões policiais contra cidadãos que procuram se manifestar pacificamente por melhores condições de vida.
"O país está uma marginal de desfile, com a tribuna composta pelo executivo, a plateia composta pela maioria do povo pobre e dois grupos carnavalescos a desfilar. O primeiro grupo integra funcionários públicos, reformados, desempregos e cidadãos acossados pela miséria", satirizou.
O segundo grupo, prosseguiu, integra agentes dos serviços de segurança, da polícia de ordem pública e de intervenção rápida, que tocando o som das ordens superiores e dos instrumentos letais, dança o ritmo da violência.
"Este grupo sofre, porque não é pela violência, sabe que os manifestantes são seus irmãos, familiares, vizinhos, ex-colegas e que amanhã, continuando assim, será a próxima vítima do regime quando estiver na reforma e a reclamar por melhores condições de vida", conclui Faustino Mumbika, aludindo à última manifestação reprimida pela polícia em Luanda.