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Telecomunicações

Crise deixa vendedores de “saldo” em dificuldades

A crise no país está a afectar todas as áreas de actividade incluindo quem faz vida, na rua, com a venda do chamado "saldo", os cartões de recarga das operadoras de telemóveis, que se queixam de fortes quebras.

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Antes da crise, que se agravou entre 2015 e 2016, estes vendedores de "saldo" contam que vendiam uma caixa com 50 cartões de 125 UTT (Unidade de Tarifária de Telecomunicações) em apenas um dia, mas que hoje dura praticamente uma semana, admitindo que continuam neste negócio informal apenas para garantir o sustento mínimo da família.

É o caso de Tomé Manuel Yafé, de 25 anos, que explicou à Lusa que dos quase 50.000 kwanzas que facturava diariamente a vender "saldo" pelas ruas de Luanda, hoje não vai além dos 9000 kwanzas, uma redução drástica das vendas.

"Antigamente, o negócio era melhor, agora a situação está dura. Devido à crise, as pessoas dificilmente compram saldo de 125 UTT, estamos aqui só para sustentar a família. Posso gastar por dia 125.000 kwanzas para comprar o negócio e a venda durar uma semana", desabafou.

Há quatro anos neste negócio, Tomé refere que hoje os clientes optam apenas por comprar o cartão de 50 UTT da operadora Unitel, por 500 kwanzas, ou o de 70 UTT, da operadora Movicel, no valor de 700 kwanzas, precisamente os mais baratos.

"A situação está complicada porque devido à crise poucas pessoas têm dinheiro para comprar saldo", observa.

Lamentações semelhantes às de Abílio Gomes, que há seis anos comercializa cartões de "saldo" por Luanda, mas que nunca viu o negócio tão fraco: "Tem sido difícil porque gastamos muito e ganhamos pouco, mas para não ficar em casa ficamos aqui, para se remediar".

Este vendedor, de 34 anos, explica que diariamente apenas consegue vender 4000 kwanzas em cartões de recargas, de uma caixa de 50 que lhe custa ao todo 58.000 kwanzas.

"Compramos a caixa de saldo de 125 UTT e ganhamos 4000 kwanzas por dia. Mas a caixa de 50 cartões pode durar uma semana, então os gastos são tantos e o lucro é pouco. Contando com os gastos de casa não chega para fazer nada", lamenta.

"São muitos gastos, com refeições diárias e com a casa. Melhor era antes da crise, podíamos vender diariamente 50 cartões, o que equivale a uma caixa. Mas agora a caixa acaba numa semana, está difícil", atirou.

João Paulo Pandi, que há cinco anos comercializa cartões de recarga telefónica em Luanda, partilha da mesmo opinião. "Antes comprava o saldo de uma caixa de 25 cartões que se vendiam a 900 kwanzas, mas hoje está duro, está difícil. Podemos vender os 25 cartões em três ou quatro dias e estamos a vender os de 500 kwanzas", diz.

O comerciante, de 52 anos, sublinha que ainda continua no negócio por falta de outra ocupação e para responder às necessidades da família, com gastos na alimentação e na renda da casa.

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