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“A Leba vai continuar a ser tela de pintura sobre a história, hábitos e costumes de Angola”

De Cabinda ao Cunene, arte e história seguem de mãos dadas. Cada vez mais. Ao duo quer agora juntar-se um terceiro elemento: o turismo. As mais de 50 curvas que serpenteiam a Serra da Leba provaram ser a tela perfeita para ensaiar esta dinâmica. Pintaram a Leba. Pintaram-na artistas. Pintaram-na estudantes. Pintaram-na professores. Em nome de Angola. Em nome da arte, da história e do turismo. Para mostrar ao mundo. Para nos mostrar ao mundo.

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Assinalar os 40 anos da independência angolana foi o pretexto perfeito para colorir a Serra da Leba? Como surgiu esta iniciativa?

Foi sim um bom pretexto para, primeiro, convencer os titulares dos órgãos decisores que as artes sempre estiveram ligadas à história de Angola, segundo, que a Serra da Leba pode ser melhor aproveitada do ponto de vista do turismo. A ideia original de se pintar os murais da Serra da Leba surgiu com Vladimir Prata (que escreve estas linhas), jornalista angolano que vive e trabalha na cidade do Namibe há quatro anos, e que notou que as paredes construídas ao longo da estrada que serpenteia a Serra, muitas das quais pinchadas com palavras obscenas que destoavam as maravilhas da natureza, podiam ser melhor aproveitadas para atrair visitantes. O contacto com o artista plástico Thó Simões permitiu desenvolver a ideia e projectar os Murais da Leba, num ano em que Angola viria a celebrar 40 anos de Independência.

A escolha do local teve que ver com a sua crescente importância turística? Acha que estes murais podem atrair ainda mais visitantes?

Foi a Serra da Leba em si que despertou a ideia dos murais. Naturalmente, vimos nisso uma maneira de atrair maior número de visitantes que viessem a divulgar não só a Serra da Leba como ponto de interesse turístico, mas também os trabalhos dos artistas que participam no projecto. Entendemos que podia haver um casamento perfeito entre o turismo e a arte naquele local, promovendo-se, para além do natural, o turismo cultural.

Pintaram-se mais de três mil metros quadrados de parede ao longo da serra. Quem foram os artistas envolvidos? Existiram contribuições internacionais?

Pretendemos pintar seis mil metros quadrados, mas até agora foi possível executar apenas três mil metros quadrados. Ainda assim foi um excelente trabalho que teve a participação de 25 artistas nacionais de Luanda, Huíla e Namibe, da nova e velha gerações. Destacar a participação de sete professores de Artes Plásticas do CEARTE (Complexo de Escolas de Arte), entre os quais Massongi Afonso, Zola, Adão Mussungu, Manuel Ventura e outros.  

Os trabalhos deverão continuar, e pretendemos fazê-lo com a participação de artistas internacionais, mas para tal precisamos de novos parceiros, já que, por razões de ordem financeira, a direcção do projecto Murais da Leba viu-se obrigada a parar com os mesmos. Sem poder avançar muitos dados, tenho a dizer que temos contactos bem avançados com uma instituição cultural de cariz internacional para que os trabalhos possam continuar ainda este ano.

Alguns estudantes do Curso de Educação Visual e Plástica da Escola de Formação de Professores Patrice Lumumba, no Namibe, tiveram também uma palavra a dizer neste projecto. De que forma se juntaram à iniciativa?

Um dos objectivos do projecto é o desenvolvimento da arte de pintar murais e distinguir o grafite como uma área de grande interesse a nível do mundo, e não como uma actividade praticada por jovens à margem da lei. Como exemplo, alguns dos jovens que participaram nos Murais da Leba confessaram que era a primeira vez que grafitavam num evento oficialmente autorizado, sob o olhar e o apoio das autoridades. Ou seja, sentiram-se valorizados! E envolver crianças neste projecto visa exactamente isso. Daí a participação de estudantes do primeiro ciclo de várias escolas do Namibe, entre as quais a escola Patrice Lumumba que, entretanto, são orientados pelo professor e artista plástico Gustavo Nuno e se destacam pelos vários murais espalhados pela cidade. Acabaram deixando, na Leba, a sua marca.

Para além da pintura, que outras actividades foram ou serão desenvolvidas ao longo do projecto?

O projecto visa uma série de actividades, para além da pintura dos murais, como workshops de artes, encontros de intercâmbio, visitas guiadas ao local e inclusive a realização de um festival de artes na Serra da Leba, todos os anos, para celebrar o turismo cultural e promover a maravilha natural que é a Serra (apesar de não ter sido votada entre as Sete Maravilhas Naturais de Angola). Porém, e pelas mesmas razões já evocadas (financeiras), a maioria destas actividades continuam por se realizar.

A Leba já foi tela de pintura em homenagem aos 40 anos da independência. E agora? Há mais algum projecto cultural/turístico na calha para o local?

Como deve perceber, a Leba vai continuar a ser tela de pintura sobre a história, hábitos e costumes de Angola e não só. Sempre defendemos que seja um projecto aberto e contínuo, mesmo depois de pintados os seis mil metros quadrados de parede. Haverá sempre a necessidade de proteger os trabalhos de artistas, de interagir com os visitantes e outros utentes da estrada da Serra da Leba. Daí o facto de pensarmos que deve-se fomentar a actividade turística no local, e esperamos encontrar parceiros para isso.

Poderemos ver este projecto ser repetido em outro local de Angola? O “Murais da Leba” poderá ser um bom exemplo para outro ex-líbris turístico nacional?

Aceitamos o desafio, caso nos seja colocado, de repetir o projecto noutras paragens de Angola, e quem sabe até incluir os jovens artistas nacionais em projectos semelhantes a nível internacional, sob a marca dos Murais da Leba. Queremos reforçar a ideia de que o grafite é uma arte bastante desenvolvida e que desperta grande interesse no mundo, e que mais projectos como este devem ser criados, apoiados e aproveitados para a divulgação da cultura nacional, atraindo deste modo maior número de turistas que se interessem por este segmento e não só.

Para terminar, gostaria apenas de referir que os trabalhos realizados até agora não teriam sido possíveis sem os apoios de instituições como o Ministério da Cultura, governos provinciais do Namibe e da Huíla, bem como de empresas como hotel Chik-Chik, Baia das Tintas, Tropicália e Silver Tour – Viagens & Turismo. 

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