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Yola Semedo: panorama musical angolano tem “qualidade suficiente para se internacionalizar”

A cantora Yola Semedo, que, na sexta-feira, deu um concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, lamenta que os valores e costumes angolanos se estejam a perder. “Estamos a esquecer-nos da importância de registarmos tudo o que é nosso, da importância de passarmos o nosso legado para as próximas gerações”, sublinha, em entrevista à Lusa, em Lisboa.

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“Não está a ser feito o suficiente”, resume. “Mais pode ser feito”, acredita. “Sinto que os nossos valores, os nossos costumes estão a perder-se cada vez mais”, lamenta. Para contornar esta realidade, não basta culpar a nova geração. “A velha guarda não teve a escolaridade suficiente para nos passar o que hoje devíamos ter como base”, diz.

Yola Semedo considera que o panorama musical angolano “é extremamente saudável” e já tem “qualidade suficiente para [se] poder internacionalizar”. Porém, realça, não gira tudo à volta do kizomba, género musical e estilo de dança originário de Angola. “Seria muito injusto dizer que só o kizomba conseguiu vencer o mercado”, afirma, destacando “um conjunto de vários ritmos africanos que estão a brilhar”, como o zouk e a coladeira.

Reconhecendo que o kizomba “está a sofrer uma transformação muito grande”, Yola Semedo diz que tenta “dar o máximo de qualidade possível” ao estilo, para que este ocupe o seu espaço nas músicas do mundo e seja “melhor consumido”.

A cantora angolana defende a liberdade de expressão e o direito de manifestação, mas prefere “não julgar os outros”. Por isso, é parca nos comentários sobre a situação política e social na sua terra natal. “São situações extremamente delicadas, que temos que ter muito cuidado antes de abordar, para não passar a imagem errada e não piorar as coisas”, observa. Mas “esta geração não é tão submissa”, arrisca, prevendo um choque geracional.

“Claro que estou muito envolvida com a situação em que vivemos. Posso não estar de acordo a 100 por cento, mas tento ficar um bocadinho distante, não por ter medo, mas por achar que as coisas mais bonitas da vida merecem muito mais atenção da minha parte”, explica.

Teve “o azar” de nascer e crescer num país ainda em guerra. “Muitas coisas melhoraram” desde então, mas “mais pode ser feito”, admite, sem querer “apontar o dedo a ninguém”. A cantora prefere dar o seu “contributo”, inspirando-se na “energia positiva”. O que a preocupa, como “cidadã que cresceu com os hábitos e costumes dos antepassados”, é ver a nova geração absorver “muito mais rápido as coisas negativas”.

Mãe de um menino de três anos, Yola gostava que o filho crescesse na sua “Angola antiga”. “Tenho um orgulho muito grande em ser angolana. Fico com muita pena de o meu país não estar melhor do que está, mas gostaria muito que o meu Carlinhos crescesse com a educação que os meus pais me passaram, com a educação que os meus avós tiveram”, diz.

Portugal foi o primeiro país a receber um de quatro concertos comemorativos das três décadas de carreira de Yola Semedo, com apenas 37 anos de idade. “A primeira vez que subi a um palco tinha sete anos”, recorda. “Cresci com a música, era música de manhã, à tarde e à noite (…). Eu não sei o que é viver fora das notas musicais”, conta. “Faço questão de ouvir toda a música, de todo o mundo, seja qual for o estilo, seja qual for a mensagem”, frisa.

Vencedora de quatro prémios na última edição do Angola Music Awards, Yola Semedo estreou-se em Portugal com convidados como Matias Damásio, Mikas Cabral e Rui Veloso.

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