Em declarações à Lusa, Devi Paulsen-Abbott sublinhou que, nos últimos 15 anos, os maiores e mais bem-sucedidos projectos na área do petróleo, têm sido as "oportunidades de (exploração) de fronteira".
"O desafio de Angola é que o foco tem sido na exploração e desenvolvimento do já existente", disse a responsável, acrescentando que para atrair novos investidores o país tem de se concentrar em novas áreas, como a bacia do Kwanza, "uma oportunidade de fronteira" que vai atrair mais 'players' e novos investidores.
Para a CEO da Energy Capital & Power (ECP), "não basta um ambiente amigo do investidor", mas também estar atento a novas oportunidades e explorações.
Neste âmbito, a colaboração entre países desempenha também um papel de importância crescente, considerou a propósito da assinatura do acordo para a partilha de receitas petrolíferas entre Angola e República Democrática do Congo (RDCongo) que deve acontecer em Julho, pondo fim a uma disputa que se arrasta há anos.
"Se estamos comprometidos como continente africano, temos de ser ágeis e agarrar as oportunidades, muitas delas são transfronteiriças", afirmou Paulsen-Abbott, apontando países como a Zâmbia, RDCongo ou Namíbia, com quem Angola partilha fronteiras e tem projectos em comum.
"Se isto for um exemplo de como as disputas podem ser resolvidas, vai ser mais fácil, vai mostrar aos investidores que existe boa diplomacia a nível internacional e vai beneficiar ambas as economias, permitindo que as coisas avancem mais rapidamente", destacou.
"A colaboração é o futuro, nenhum país pode caminhar sozinho", reforçou Devi Paulsen-Abbott.
Sobre a venda de activos de empresas estrangeiras como a Total ou a Galp e a entrada de 'players' angolanos como a Somoil, sublinhou que "é bom que as empresas locais comecem a participar mais no sector".
"Somos vítimas, como continente de muita exploração internacional, não queremos estar numa situação em que os investidores estrangeiros vêm e ficam com todos os activos e depois saem. Isto não traz benefício para a população local, por isso, dar espaço aos 'players' locais é muito importante, não precisamos de ter monopólios ou apenas meia dúzia de empresas a concorrer", comentou.
Este é também um "sinal de um mercado maduro", em que vários 'players' actuam no mercado.
Questionada sobre a privatização da Sonangol, considerou que vai ser "muito significativa para o sector", e, por isso, não pode ser um processo que acontece de um dia para o outro, antes deve ser feita uma abordagem cuidadosa.
"Vai ter um grande impacto no sector e em Angola", assinalou, sublinhando que "é preferível uma maratona a um 'sprint'", tal como acontece com a transição da Sonangol para uma empresa de energia.
Realçou ainda que os compromissos a longo prazo são particularmente relevantes neste sector e que Angola tem mudado bastante em termos de regulação e ambiente empresarial, defendendo maior envolvimento entre sector público e privado.
Mas, acrescentou, "tem de ser uma colaboração, não pode ser uma imposição, tem de ser bom para todos".
Sobre o impacto da desvalorização do kwanza sublinhou que se vai fazer sentir em todos os sectores, e não apenas na indústria petrolífera.
Cautela será uma palavra de ordem, mas é preciso "olhar para as questões mais gerais", para perceber como será o futuro.
"Não podemos olhar para as oportunidades do futuro com os olhos do presente, temos de pensar como vai ser. Sabemos que o resto do mundo não tem as oportunidades em termos de recursos que temos em África, por isso temos de ter uma abordagem de longo prazo", frisou.
A empresa sul-africana dedicada ao investimento no mercado da energia vai promover entre 13 e 14 de Setembro, em Luanda, a 4.ª Conferência Oil & Gás, procurando mostrar novas oportunidades de desenvolvimento, as mudanças no sector a nível da transição energética e estratégias de descarbonização, mas também focar-se na igualdade de género, adiantou Devi Paulsen-Abbott.