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Irina Vasconcelos: “A música é a minha vida, é como me expresso e é a minha fonte de arte”

Talento, talento e mais talento. É assim que a crítica descreve o trabalho da artista que se tem destacado no panorama musical nacional. Dona de uma voz deslumbrante e única, que se tornou inconfundível, sempre viveu rodeada de música no seio familiar. Com alma rock, em 2012 deu voz ao álbum “Safra”, da banda “Café Negro”, mas é este ano que promete o seu primeiro álbum a solo, “KAI”, uma mistura de indie rock, urban jazz e world music, resultado do seu percurso musical que foi amadurecendo, e da sua “alma guerreira”.

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Versátil e criativa, a cantora inspira-se na história e na união dos povos quando compõe, “sempre com garra vocal”. Aos 32 anos, Irina Vasconcelos sente-se grata pelo respeito e carinho do público, admitindo que apesar das dificuldades enfrentadas ao longo da carreira, evoluiu enquanto artista, e prova disso é o espaço que vai conquistando, dia após dia, no mercado nacional.

Irina, em primeiro lugar fale-me de si… Onde nasceu e cresceu, como foi a sua infância, os seus estudos, que idade tem…

Nasci a 4 de Fevereiro de 1985 na Maternidade Lucrécia Paim às 11h00 da manhã. Sou descendente de São Tomé, Cabo Verde e Portugal. Os meus estudos alternaram-se por Angola e Portugal. Neste momento vivo em Angola onde me debruço profissionalmente.

Quando e como surgiu a paixão pela música?

Sempre estive ligada à música por influência familiar. A minha mãe e tias faziam serões de cantos africanos e cantavam para o meu avô, que infelizmente já não é vivo, mas que se deliciava com a eloquência das suas vozes. Quando fui para Portugal estudar, obviamente a minha cultura musical, no que toca ao rock, jazz e soul expandiram-se, mas sempre senti que faltava algo em mim. Havia um choro que não se calava. Aproximadamente 10 anos depois e de regresso a Angola, com o coração cheio de expectativas, conheci um grupo de jovens que estudava no Instituto Médio Industrial de Luanda (Makarenko). Eram os pupilos do actual movimento de rock. Desde então a música tem sido a minha “umbrella” na expressão cultural que me caracteriza: o rock!

Quem são as suas influências e os seus ídolos na música?

Questão complicada mas bastante pertinente. Quanto mais idade tenho mais difícil é responder a esta pergunta, mas alguns exemplos que me enchem a alma, pela garra e mensagem, são: Skunk Anansie, Keane, Smashing Pumpkins, Guano Apes, Ornatos Violeta, Nina Simone, Fela Kuti, Mory Kanté, Mazzy Star, Artur Nunes, Filipe Mukenga...

Em 2012 foi lançado o “Safra”, da banda “Café Negro”, sendo a Irina a voz do projecto. Para quando um próximo álbum com o selo da Irina?

Estou neste momento a preparar o meu álbum a solo. Depois de “Café Negro” fiz várias apresentações a solo, a coberto do jazz, pois como vocalista e compositora lírica precisava de melhor perceber os meus limites e capacidades, conhecer o mercado de forma individual e não como banda. O feedback foi bastante positivo e recebi do público mais elogios do que na altura do rock. Contudo continuo fiel a mim mesma, mas adquiri mais conhecimento. “KAI” será o nome da obra discográfica que ondulará pelas paisagens do indie rock, urban jazz e world music. O álbum está essencialmente a ser gravado em Angola e Portugal. Como estou a produzi-lo por meios próprios e por não pertencer a nenhuma grande label, a caminhada tem sido difícil mas mais real. Músicos com enorme talento têm alegrado a minha alma guerreira na condução sonora dos temas, que reflectem enormemente a minha intenção: hastear a bandeira de Angola sob o mote “Mais amor, mais cultura, mais união, mais Angola”. Uns levam quatro anos para gravar um álbum, uns menos, outros mais, outros até desistem... Eu cá ando alternativamente! A previsão de lançamento está para Junho. Que se concretize.

É sabido que a Irina compõe os temas da banda. Qual a sua fonte de inspiração quando escreve?

Sempre fui autobiográfica. Na altura de “Safra” falava sobre sentimentos comuns a qualquer mortal. As inseguranças do amor, as disparidades sociais e inclusive o preconceito do género. Mas o fascínio pela história sempre esteve presente. Somos todos resultado da história. Hoje mais madura, o meu mote é a união dos povos, mas sempre com garra vocal. A felina que desbrava amores, a artista desconhecida de alma rock. Solidariedade sob todas as formas sem nunca esmorecer.

Em 2014 arrecadaram o prémio de melhor banda do ano, no “Angola Music Awards”. Dois anos depois, qual o impacto real que o prémio teve no vosso trabalho?

O regresso do rock como bandeira musical de expressão. Depois de nós mais bandas ressurgiram e espero que mais vocalistas femininas surjam igualmente.

A título individual, celebrou em 2016 dez anos de carreira, com um concerto no Camões. A recepção do público superou as expectativas?

Completamente! Foram dois dias de pura folia. Tive a presença de grandes figuras da sociedade angolana e não só. Os colegas da arte e com enorme talento, que me têm acompanhado a trilhar os caminhos da música angolana, fizeram-me acreditar com mais vigor que melhores dias virão, desde que sejamos honestos com a nossa fonte criativa. Um grande bem haja a todos que tornaram esta celebração possível e ao público pelo respeito e carinho. Sou grata.

Que balanço faz da sua carreira até aqui?

O balanço é positivo porque apesar das adversidades tenho evoluído. Para além de cantora e artista sou mentora de projectos culturais.

“Etimba Festival Benguela by Cuca Soba Catubela” é um festival de arte urbana do qual sou produtora executiva. Abrange uma série de eventos multidisciplinares, que ocorrem durante dois dias em Benguela, mais especificamente na Praia Morena. Dentro do âmbito pedagógico, e sendo o primeiro festival de world music na região, pretende celebrar os 400 anos da província. O festival já está ma sua segunda edição e é gratuito.

Também sou directora artística do festival “Rock no Rio Catumbela”. Um festival criado em 2012 pela Cube Records, no município da Catumbela, que reúne bandas de rock e música de Angola, África do Sul, Namíbia, Cabo Verde e Cuba, com uma afluência de 30.000 pessoas por ano.

Como vê o mundo da música em Angola? Há apoios para os nossos artistas?

Acho que finalmente estão definidos os blocos de popularidade e por que pressupostos. O fenómeno mainstream vs urban está mais visível, embora nem sempre seja justo à qualidade ou talento dos seus intervenientes. Acho que não nos devemos distanciar da música urbana, pois esta fala sobre a vida das gentes, o seu quotidiano e sabores. Quanto mais longe formos com a nossa música melhor. Devemos caminhar com cuidado para não ferirmos nem os mais velhos, que fizeram a história, nem os mais novos, que precisam dessa história. Quanto mais alinhados estivermos a estas premissas mais apoio teremos. Angola somos todos nós, juntos.

Por fim, o que é que a música representa na sua vida?

A música é a minha vida. É como me expresso, é a minha fonte de arte. Nela estão acoplados valores morais e culturais, que alicerçam os projectos futuros. Daí serem o reflexo da minha alma guerreira.

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