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Transportes

Deborah Almeida: “Se não tivermos que nos sujar, desenterrar ou rebocar carros não tem piada”

Uma paixão quase inevitável. É assim que Deborah Almeida descreve aquilo que sente cada vez que põe os pés nos pedais. Dominou alguns dos trilhos mais duros de Angola, de Luanda ao Cunene, conquistou títulos nacionais e internacionais e agora sente-se pronta para uma nova aventura, a maior de todas, é certo. Destemida, a jovem condutora foi uma de apenas dois concorrentes angolanos escolhidos para a próxima etapa da Ford Odisseia Ranger, partindo para a África do Sul já no próximo dia 18. Primeira concorrente feminina a ser seleccionada este ano para o campo de treino, não se intimida por ser mulher num “man’s world”, bem pelo contrário.

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Em primeiro lugar, gostaríamos que nos falasse um bocadinho sobre si. Onde nasceu, onde cresceu, como foi a sua infância?

Nasci em Lisboa, mas vim para Luanda com menos de três meses de idade. Tanto o meu pai como a minha mãe são do Namibe, portanto a família esteve e está em Angola. Sempre vivi e cresci em Luanda passando e vivenciando todas as fases boas e más desta cidade. Desde sempre, estive envolvida pelo ambiente da competição automóvel devido à presença/participação constante do meu pai neste desporto. Muito pequena, ia aos Ralis que ocorreram nos anos 80 até ao início dos 90. Depois dessa época estava sempre presente nas corridas de pista/velocidade que aconteciam nas diversas províncias do país. Nas férias era habitual fazer os famosos Raids que acontecem no Cacimbo, que percorrem os trilhos mais duros, desde Luanda até ao Cunene.

A paixão pela condução foi algo que sempre esteve presente na sua vida?

Sim, foi quase inevitável, tendo em conta o meio envolvente e o facto de ter estado envolvida em competição desde pequena. Comecei com 12 anos nos kartings, fiz três campeonatos nacionais, ficando sempre bem classificada. Agora numa fase mais adulta, tenho participado em Ralis, não só do Campeonato Nacional, como também em provas internacionais, incluindo a famosa Baja de Portalegre (Portugal) que conta para a Taça do Mundo de Ralis. No Rali, já conquistei diversos títulos a nível nacional (2.º,3.º) como também a nível internacional (2.º Troféu Buggy - Portugal), todos estas conquistas só foram possíveis graças ao apoio e suporte necessário da equipa em que estou enquadrada “Social Team”.

O que é que a levou a participar na etapa angolana da Odisseia Ranger?

Achei um óptimo desafio, dado estar bastante envolvida no Todo o Terreno e por já ter feito vários Raids por Angola, porque não tentar fazer um fora do país? Acredito que servirá para aprender mais sobre a condução off-road. É uma excelente aposta por parte da Ford, irá dar provas que a nova Ranger está apta para os trilhos mais duros.

Como é que correu a prova? Foi um percurso fácil, tendo e conta que teve de conduzir por estrada, areia e picada?

A prova correu bem, tive somente um percalço na primeira curva de areia pois necessitava de um pouco mais de velocidade, fui obrigada a parar para tirar a tração e colocar o reforço. Não era um percurso fácil mas só conseguiria ultrapassá-lo quem tivesse experiência de condução todo o terreno.

Está confortável ao volante de uma Ford Ranger? Gosta do veículo?

Sim estou. É uma pick up que está dentro das três melhores que se encontram no mercado angolano, é resistente, a motorização da gama alta é excelente e tem alguma comodidade.

Como é que se sentiu ao saber que tinha sido seleccionada para representar Angola no campo de treino em Karoo?

Muito contente, é sempre bom ir para o exterior representar o nosso país. Poderá ser surpresa para alguns o facto de ser uma mulher neste tipo de actividades, o que me motiva mais para que o mundo feminino se sinta orgulhoso.

Sente-se preparada para o programa intensivo de treinos e avaliação que a espera na África do Sul?

Sim, estou bastante disposta a aprender coisas novas. É uma área que muito me interessa portanto terei todo o gosto. Quanto aos testes, vou esforçar-me por não decepcionar e estar à altura, de forma a superá-los.

Acha que pode vir a ser uma dos 20 finalistas escolhidos para embarcar nesta aventura todo-o-terreno?

Penso que sim, já tive que ultrapassar provas de Rali bastante duras e longas. Infelizmente tenho pouca experiência em pick ups pois sempre participei em UTVs, mas como tudo na vida, se nos concentrarmos e esforçarmos, podemos surpreender-nos a nós próprios.

Na sua opinião, quais são as características essenciais que os pilotos têm de ter para seguir em frente na competição?

Calma e concentração. Já aprendi que quanto mais ansiedade e quanto mais rápido tentar terminar as competições off-road, mais facilmente irei cometer erros e danificar o veículo que estiver nas minhas mãos. Não é necessário deixar-me levar por emoções pois corro o risco de não atingir o objectivo principal, que é, chegar ao fim. 

Como mulher, quais as diferenças que sente neste mundo, ainda maioritariamente dominado pelo sexo masculino?

Sinto que apesar de sermos poucas mulheres neste mundo, é bastante mais fácil gerirmos a máquina (veículo de competição) e as nossas emoções. Nestes últimos três anos de provas de Rali consegui perceber que os homens têm bastante dificuldade em gerir emoções e a probabilidade de destruírem os seus veículos de competição é muito elevada. É algo que está associado ao sexo masculino, a partir do momento em que entram no seu carro/mota, o factor competição e vontade de ganhar provoca uma espécie de “irracionalidade”, o que torna mais difícil perceber que limites estão a ser ultrapassados. 

Se realmente for seleccionada, como é que antecipa esta verdadeira aventura de 12 dias na Namíbia?

Não consigo antecipar muito, mas imagino que seja uma experiência única. Acredito que existam zonas com dunas e trilhos duros com pedra, paisagens bonitas e alguns contratempos. Se não tivermos que nos sujar, desenterrar ou rebocar carros não tem piada .Provavelmente não serão dias para descansar, mas sim dias de algum esforço físico, o que já é habitual no mundo que me rodeia. O mais importante é que todos os participantes cheguem ao fim com saúde e guardem na memória uma boa experiência fantástica, ao volante dos Ford Ranger, numa Odisseia fantástica, com paisagens de tirar o fôlego.

Acha que será uma mais-valia para o desporto no país esta possibilidade de representação internacional?

Sim, com certeza que será. A participação de angolanos nestes desafios só mostra que estamos a crescer e que já temos o desporto motorizado em desenvolvimento. Credibiliza os desportos angolanos nesta área. O facto de uma marca como a Ford apostar nestas iniciativas com pilotos angolanos mostra que a competição e as capacidades dos angolanos sobressaem e que são consideradas para provas de cariz internacional. Pode ser que um dia, a Ranger Odyssey passe por Angola.

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