Em entrevista à Lusa no âmbito dos 40 anos da independência do país, Manuel Rui afirmou à Lusa que “os hinos nacionais correspondem a uma determinada etapa do pensamento nacional de cada país”, dando o exemplo do caso português.
“O hino francês também tem uma carga bélica e é ‘A Marselhesa’. No nosso caso concreto tinha que ter uma carga de paz. De amor. De fraternidade”, disse o autor da letra do hino, cuja música foi composta por Rui Mingas, e que inclui os versos: “Orgulhosos lutaremos pela paz / Com as forças progressistas do mundo”.
O hino, explicou o então ministro da Informação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), “foi feito debaixo de uma carga emocional grande” devido ao cenário de guerra, acrescentando que quando escreveu a letra “estavam a passar aviões a deitar panfletos” para cima de sua casa.
Manuel Rui disse que quando ouve o hino num jogo da selecção nacional angolana sente que “aquilo não (lhe) pertence”, que já não é seu.
Sobre o país hoje, o também escritor afirmou que quem viveu em Angola há 40 anos já não a reconheceria. “Não reconhecem porque tem o asfalto todo para andar, tem os aviões todos e obviamente que é outro país. É outro país de tal maneira que mesmo em Luanda há uma classe que inunda a cidade de carros, gente que vivia no musseque e portanto tudo isso é gratificante para quem andou metido nessas andanças das independências, mas que obviamente não satisfaz, porque há desvios de todo o tipo”, afirmou Manuel Rui.
