“De alguma maneira esse livro é um alerta que estamos a ser devorados por outras culturas mais agressivas e mais fortes, então nós temos de elevar na globalização também aquilo que nós somos”, referiu Tati, em declarações à Lusa.
Segundo o ex-deputado à Assembleia Nacional, o livro fala da importância da globalização para a humanidade, defendendo que esta tem de integrar a identidade própria dos povos.
A obra, com mais de 200 páginas, resulta da recolha de informações de fontes orais, mas também da consulta de bibliografia, nomeadamente livros, documentos e arquivos internacionais, sobretudo de Portugal.
Um dos objectivos do livro, realçou, é não se perder a identidade, consubstanciada na história e na cultura do povo Cabinda.
“Um dos problemas que os povos africanos enfrentaram depois da descolonização é exatamente a questão das suas tradições, das suas culturas e da sua história, tendo em conta que durante a colonização fomos submetidos a outros padrões culturais, a uma história que não era nossa, a nossa história foi praticamente posta debaixo do tapete”, expressou.
Hoje, “como Estados independentes, livres, em África é preciso trabalhar-se para o resgate da cultura, história, fazendo face ao perigo dela se diluir no tempo”, defendeu Raul Tati.
Segundo o autor, é tempo de construir a história dos africanos na primeira pessoa, deixando de ser "aquela história construída pelos outros".
Questionado se a obra retrata de alguma forma a questão da autonomia reclamada pelos naturais da província de Cabinda, o antigo vigário da diocese daquela província no norte do país disse que esse não é o foco deste livro, que fala da história e das tradições cabindas.
“Eu trato desta questão específica na obra antes desta, ‘Cabinda: Órfã da Descolonização do Ultramar Português’. Aí abordo exatamente essa questão. Esta é uma obra que tem que ver com a história. Agora, lendo a história, as pessoas podem tirar as suas conclusões”, declarou.
O activista e escritor criticou o Estado pela ausência de políticas do livro, como uma subvenção relativamente à produção do livro, defendendo a importância de um subsídio do Governo para o efeito.
“Está muito complicado, as gráficas dizem que têm dificuldades de papel, está muito caro, e é claro que isso também encarece a produção do livro e as editoras têm dificuldades também de sobreviver e ninguém consegue ficar rico produzindo livros cá em Angola”, referiu, anunciando que está para breve o lançamento do seu quinto livro.
Raul Tati é professor de História e Antropologia Cultural no Instituto Superior de Ciências de Educação em Cabinda e igualmente docente no curso de Relações Internacionais no Instituto Superior Politécnico Lusíada de Cabinda.