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Mais de um terço dos angolanos privados de comida e água potável em 2019

Mais de um terço dos angolanos ficaram privados de comida, água potável e assistência médica e medicamentosa no ano passado, segundo um inquérito promovido pela organização Afrobarómetro.

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No estudo, a que Agência Lusa teve acesso, os autores sublinham que os dados deixam “a descoberto vulnerabilidades socio-económicas profundas, que têm tornado extremamente penoso o cumprimento das medidas restritivas do estado de emergência, no âmbito das medidas de combate a Covid-19”.

De acordo com os dados recolhidos, mais de um terço de uma população total de 30 milhões sofreu situações de extrema pobreza, nos 12 meses anteriores ao estudo, ficando “muitas vezes” ou “sempre” privados de bens essenciais, incluindo salários ou outras formas de rendimentos.

O documento realça que Angola está a viver um longo período de estado de emergência, com isolamento social, desde o final de Março, para combater a propagação da pandemia e embora pareça haver um amplo acordo entre os decisores políticos e os cidadãos sobre a necessidade de se implementar estas medidas, o Governo e seus parceiros de desenvolvimento devem executar estratégias que possibilitem mitigar o impacto do cumprimento do confinamento pelas famílias mais carenciadas.

“Mais de um terço (35 por cento) dos angolanos viveu em situação de “extrema pobreza” durante o ano anterior à pesquisa, o que significa que eles sofreram frequentemente com a escassez de alimentos, água potável, assistência médica e medicamentosa, combustível para cozinhar e de salário ou outros rendimentos”, aponta o estudo.

Os dados apontam que aproximadamente a mesma proporção (34 por cento) experimentou a “pobreza moderada” e apenas 7 por cento relataram não ter vivido situações de escassez de bens essenciais, sendo as situações de “pobreza extrema” relatadas com maior frequência nas zonas rurais (46 por cento, contra 30 por cento nas áreas urbanas) e nas regiões leste (51 por cento) e sul (41 por cento).

No período em referência, indica o inquérito, mais de um terço dos angolanos (36 por cento) ficou sem salários ou outros rendimentos “muitas vezes” ou “sempre” durante o ano anterior à pesquisa, além dos 32% que viveram esta situação “apenas uma ou duas vezes” ou “várias vezes”.

“Apenas um em cada quatro (26 por cento) tiveram regularmente salários ou outros rendimentos”, refere o estudo, acrescentando que esta situação é mais comum nas áreas rurais (44 por cento) do que nas cidades (38 por cento) e é mais marcante na região centro (44 por cento).

No que se refere à questão sobre alimentação, os dados apontam que dois terços (67 por cento) dos angolanos ficaram sem comida suficiente pelo menos uma vez durante o ano de 2018, incluindo um em cada cinco (21 por cento), que ficaram “muitas vezes” ou “sempre”, principalmente nas regiões leste (77 por cento) e centro norte (70 por cento).

Relativamente à assistência médica e medicamentosa, em 2018, cerca de oito (75 por cento) em cada dez angolanos não beneficiaram dela, incluindo um terço (32 por cento) que não tiveram atendimento médico “muitas vezes” ou “sempre”, destacando-se a região leste, com quase metade (45 por cento) dos moradores sem esse direito a essa necessidade básica.

O primeiro inquérito de opinião pública em Angola da Afrobarómetro foi realizado junto de 2400 angolanos adultos, entre 27 de Novembro e 27 de Dezembro de 2019, tendo uma margem de erro de cerca de dois pontos percentuais e um nível de confiança de 95 por cento.

A Afrobarómetro é uma rede de pesquisa pan-africana e não partidária, que fornece dados quantitativos sobre a vivência e avaliação dos africanos sobre a democracia,  governação e qualidade de vida.

A organização já realizou sete rondas de pesquisas de opinião pública em 38 países, entre 1999 e 2018, estando a oitava ronda prevista em 35 países africanos, entre 2019/2020.

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