"Juntar pessoas sem respeitar o distanciamento e permitindo que interajam vai facilitar a transmissão do vírus. Isso é claro", disse John Nkengasong, quando questionado sobre os riscos de manter a realização de eleições no actual contexto de pandemia.
O director do Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças da União Africana (África CDC) falava esta Quinta-feira, a partir de Adis Abeba, durante a conferência de imprensa semanal para fazer o ponto de situação da evolução da pandemia no continente africano.
Confrontado com a decisão de alguns países africanos, como o Burundi, de manterem a realização de eleições enquanto outros optaram pelo adiamento, John Nkengasong considerou que terá de haver sempre "um equilíbrio" entre a ameaça que o vírus representa para a segurança nacional e a importância de manter a votação.
"As eleições têm de ser adaptadas, estabelecendo limites de espaço e evitando concentrações. Se não se conseguir assegurar isso, se as pessoas não puderem votar 'online' ou não se conseguir garantir grande distância física, vai-se potenciar o risco e é de esperar aumentos significativos de casos após as eleições", disse.
"Vimos que em países que mantiveram eleições, que permitiram às pessoas juntarem-se em eventos políticos, os casos aumentaram", acrescentou, sublinhando que, depois das eleições, pode tornar-se "extremamente difícil" para os países conterem a propagação do vírus.
O responsável do África CDC apelou ainda aos países da organização para que partilhem os dados, numa altura em que vários Estados-membros não actualizam o número de casos há vários dias e outros, como a Tanzânia, suspenderam a divulgação de informações sobre a evolução da doença.
"Sem dados rigorosos de todos os Estados, torna-se difícil o combate à pandemia. Nenhum país é uma ilha e o vírus não tem passaporte. Não partilhar os dados e a informação só cria insegurança", disse.
África registou na última semana 20.400 novos casos de covid-19, elevando para 72.336 o total de infecções no continente, onde morreram 2.475 pessoas em 54 países, segundo dados divulgados esta Quinta-feira.
O número de doentes dados como recuperados é de 25.268.